Deixai-me
falar convosco
São
Paulo louva a obediência de Jesus Cristo, dizendo, que ele obedeceu
ao Eterno Pai até á morte. Mas no Santíssimo Sacramento excedeu
muito mais a sua obediência, porque ali não só obedece ao Eterno
Pai, mas ao homem; e não só até á morte, mas em quanto o mundo
durar. Ele desceu do Céu por obediência ao homem, e sobre os altares
se deixa ficar, em quanto os homens querem que fique. Ali está sem
se mover por si mesmo: deixa-se estar onde o poem, ou na Custodia
exposto, ou no Sacrário fechado: deixa-se conduzir por onde o levam,
assim pelas ruas, como pelas casas; consente que o comungue todo
aquele a quem o dão, ou seja justo, ou pecador. Em quanto viveu
neste mundo, diz S. Lucas, que ele obedecia a Maria Santíssima, e a
S. José; mas neste Sacramento obedece a tantas criaturas, quantos
são no mundo os Sacerdotes.
Deixai que eu hoje fale convosco,
ó Coração amantíssimo do meu Jesus, do qual saíram todos os
Sacramentos, e principalmente este Sacramento de amor. Eu quisera
dar-vos tanta gloria, e tanta honra, quanta vós dais nesse
Sacramento a vosso Eterno Pai. Eu bem sei que vós sobre esse altar
me estais amando com aquele mesmo amor, com que me amastes, quando
consumastes a vossa vida sobre a Cruz. Alumiai, ó Coração Divino, a
todos aqueles, que vos não conhecem. Livrai com os vossos
merecimentos, ou ao menos aliviai no Purgatório aquelas almas
aflitas, que são já vossas eternas Esposas. Eu vos adoro, vos louvo,
e vos amo com todas aquelas almas, que a esta hora vos estão amando
na terra, e no Céu. Purificai, ó Coração puríssimo, o meu coração de
todo o afecto desordenado ás criaturas, e enchei-o do vosso santo
amor. Possui, ó Coração dulcíssimo, todo o meu coração, de tal modo
que ele de hoje em diante seja todo vosso. Escrevei, ó Coração
santíssimo, sobre o meu as amarguras, que por tantos anos
suportastes na terra com tanto amor por mim, para que eu suporte com
paciência, por vosso amor, todas as penas desta vida. Coração
humildíssimo de meu Jesus, fazei me humilde de coração. Coração
mansíssimo, comunicai-me a vossa mansidão, e separai do meu coração
tudo quanto vos não agrada; convertei-o todo a vós, de modo que ele
não queira, nem deseje senão aquilo, que vós quiserdes. Fazei
finalmente que eu viva só para obedecer-vos, só para amar-vos, só
para agradar-vos. Conheço que vos devo muito: muito me tendes
obrigado. Ah! e que pouco faria eu, Senhor, se me consumisse todo e
morresse por amor de vós! |