SITE DOS AMIGOS DA BEATA ALEXANDRINA

DECRETO SOBRE AS VIRTUDES

CONGREGAÇÃO PARA AS CAUSAS DOS SANTOS
Bracarense 

Processo de Beatificação e Canonização
da Serva de Deus
 

ALEXANDRINA MARIA DA COSTA
Virgem secular
Membro da Associação dos Cooperadores de S. João Bosco
(1904-1955)

Mas vós sois corpo de Cristo e seus membros” (1 Cor. 12, 27).

Membro vivo de Cristo foi a Alexandrina Maria da Costa, que recebeu do Senhor a vocação de participar nos sofrimentos da paixão do Senhor Jesus, que se “humilhou a si próprio, feito obediente até à morte e morte de cruz” (Fil. 2, 8). Unida ao Divino Esposo, seguiu-o com amor e por amor se devotou no caminho do calvário pela conversão dos pecadores e pela conversão das almas, desempenhando a sua missão, que lhe fora confiada pelo Céu, de “amar, padecer e expiar”.

A Serva de Deus, segunda filha natural de Ana Maria da Costa, nasceu no dia 30 de Março de 1904, no lugar de Gresufes, na aldeia de Balasar, no território da Arquidiocese de Braga, Portugal, e recebeu o Baptismo no dia 2 de Abril seguinte. A mãe dela, abandonada pelo esposo pouco antes do casamento, suportou com dignidade o peso da família e educou as filhas com fortaleza e diligência segundo as leis de Deus e da Igreja, dando-lhes admiráveis exemplos de oração e de prática de caridade, sobretudo para com os doentes.

Desde a meninice, a Alexandrina sofreu os efeitos de dura pobreza quando a família, perdidos todos os bens, contraíra um grande empréstimo para ajudar um parente necessitado. Frequentou a escola primária durante pouco tempo na cidade da Póvoa de Varzim, onde, com grande alegria, fez a Primeira Comunhão. Depois do regresso à sua aldeia natal, trabalhou nos campos e aprendeu costura. Gozava de óptima saúde, era de espírito alegre, folgazão, afável e vivaz. Dedica-va-se à oração com assiduidade, estudava o catecismo, participava nas actividades paroquiais e empenhava-se na correcção dos seus defeitos. Assistia de boamente doentes e moribundos.

No Sábado Santo do ano de 1918 — 30 de Março, dia do seu aniversário —, para defender a virgindade de alguns homens que se tinham infiltrado em sua casa, atirou-se de uma janela abaixo e a partir daí caminhou com dificuldade e com sofrimento. De início, os médicos não conseguiram fazer um diagnóstico acertado, mas mais tarde chegaram à conclusão de que ela sofria de mielite comprimida da medula. Todo o tratamento resultou ineficaz e os sofrimentos foram aumentando de dia para dia, até que no ano de 1925 viu-se obrigada a acamar definitivamente. A paralisia dos membros foi aumentando cada vez mais e por fim a atrofia dos músculos foi tal que a impediram de qualquer movimento.

Nos primeiros anos da doença, como é natural, pediu instantemente a cura, mas foi-lhe concedida a graça de aceitar a vontade de Deus e também desejar sofrer ainda mais. Deste modo o seu leito tornou-se um altar do sacrifício, o seu corpo um templo no qual Deus realizou maravilhas e a alma transformada numa chama ardente de caridade. Começou por sentir uma grande pena de “Jesus prisioneiro dos Sacrários”, ao mesmo tempo que tomava consciência mais claramente da sua vocação de vítima. Instruída pelo próprio Cristo e por Ele guiada na sabedoria da Cruz, ofereceu-se como vítima de expiação, aceitou ser crucificada e tornar-se participante da Redenção através dos seus sofrimentos, que foram muitos, atrozes e contínuos. Experimentou na sua carne e no seu espírito os sofrimentos da paixão de Jesus, moléstias diabólicas, a que se juntaram tentações, períodos de aridez e de trevas interiores, dúvidas contra a fé e morte mística. Tinha desgosto de não poder ir à igreja e de não ter possibilidade de comungar frequentemente, bem como de que fossem demasiado divulgadas as suas admiráveis experiências. Sofreu igualmente devido aos transtornos causados pelas visitas de muitas pessoas, devido ao afastamento do seu primeiro director espiritual, aos inquéritos eclesiásticos e dos médicos, devido às repreensões deles, por não acreditarem na sua sinceridade e honestidade. Deus favoreceu-a com êxtases, visões, conhecimento de factos futuros, perscrutação dos corações. Nos últimos treze anos de vida não tomou qualquer alimento a não ser o Pão eucarístico.

Apesar de doente, exerceu um grande e frutuoso apostolado: recebia com amabilidade as muitas visitas às quais dirigia palavras de fé e de consolação exortando-as a receberem os sacramentos da Penitência e da Eucaristia, a rezarem o terço e não raramente obteve a conversão dos pecadores. Ensinou durante muito tempo o catecismo às crianças; foi zeladora da Pia União do Apostolado da Oração, promoveu a edição de livros católicos e das missões; fomentou as vocações sacerdotais e religiosas; aderiu às Filhas de Maria e à Associação dos Cooperadores Salesianos. Com as ofertas recebidas de benfeitores favo­receu o culto divino, a pregação da Palavra de Deus, ajudou a sua paróquia, as missões, os alunos dos seminários e jovens necessitados, pobres e desempregados. Interessou-se pela celebração das festas religiosas e da Santas Missas; contribuiu para a construção de casas para os que delas careciam. No ano de 1936 pediu ao Sumo Pontífice a consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria, o que fez Pio XII no dia 31 de Outubro de 1942.

Esquecida de si mesma, viveu só para Deus e para o próximo e, entre os espinhos do sofrimento, cultivou muito belas e perfumadas virtudes cristãs. A fé foi a luz dos seus pensamentos, dos seus afectos, das suas palavras e acções. Acreditou firmemente em Jesus Cristo, no Evangelho, nas verdades reveladas e no magistério da Igreja. Cumpriu perfeita­mente os mandamentos de Deus, obedeceu prontamente à vontade de Deus e foi instrumento dócil nas suas mãos para o desempenho da missão que lhe foi confiada para bem da humanidade. Elevada à contem­plação dos grandes mistérios da fé e da oração, nutriu uma particular devoção à Santíssima Trindade, à Eucaristia e à Virgem Maria. Identificada com Cristo pregado na cruz até ao ponto de afirmar: “Não sou eu que sofro: é Jesus que sofre em mim”; e de poder repetir de si com S. Paulo: “Estou crucificada com Cristo; já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gal. 2,20), e acrescentar: “Completo na minha carne o que falta aos sofrimentos de Cristo pelo Seu Corpo, que é a Igreja” (Col. 1,24).

O seu coração ardia de amor para com Deus, a Igreja e as almas. Escreveu:

Amarei a Jesus nas trevas, amá-Lo-ei nas humilhações, nos sofrimentos e nas angústias da alma; amá-Lo-ei com transportes de alegria, esforçando-me por cumprir em tudo a sua vontade.

Afirmava ao mesmo tempo que estava disposta a sofrer até ao fim do mundo pela salvação dos pecadores.

Na lápide do seu sepulcro quis que fossem gravadas estas palavras, compêndio do seu apostolado:

Pecadores, se as cinzas do meu corpo vos podem servir para a vossa salvação, vinde, calcai-as aos pés até elas desa­parecerem, mas não continueis a pecar, nem ofendais mais o nosso Jesus!

Pecadores, quereria dizer-vos muita coisa! Este cemitério não chegaria para as conter!

Convertei-vos!

Não ofendais a Jesus, não queirais perdê-lo eternamente!

Ele é tão bom!

Basta de pecados!

Amai-O! Amai-O

Não foi menor a sua caridade para com a mãe e a irmã Deolinda que a assistiram carinhosamente, para com os pobres, os doentes, as almas do Purgatório; e aqueles que lhe causaram qualquer desgosto, receberam imediatamente o seu perdão e a sua benevolência. Sinceramente humilde, tinha-se em conta de nada diante de Deus e indigna de qualquer reputação diante dos homens; evitava louvores e regozijava-se quando era desprezada. Alheia às coisas do mundo, abraçou com alegria a temperança e a pobreza, colocando a sua esperança em Deus e na Providência; tendia continuamente ao prémio eterno, que esperava alcançar não pelos seus méritos, mas pelos de Cristo. Conservou-se livre e pura de qualquer afecto desordenado e observou perfeitamente a castidade, superando não leves tentações. Em todas as circunstâncias falou e agiu com prudência sobrenatural. Foi justa para com Deus e o próximo: foi forte na obediência aos superiores eclesiásticos, nos sofrimen­tos do corpo e do espírito, na fidelidade ao dever e no cumprimento quotidiano da vontade divina. Também na proximidade da morte, quando os sofrimentos atingiram o máximo, perseverou com fortaleza e generosidade na entrega de si mesma e da sua vida. Com ânimo sereno foi ao encontro da eternidade murmurando:

Sou feliz, porque vou para o Céu.

Confortada com os sacramentos, concluiu o seu caminho doloroso e com a lâmpada acesa entrou na morada de Deus no dia 13 de Outubro de 1955.

O povo, que a tinha em conceito de santa, afirmou:

“Morreu a mãe dos pobres, o auxílio dos necessitados; foi-se a consoladora dos aflitos”.

Uma multidão imensa visitou o seu corpo e esteve presente nas suas exéquias. No ano de 1977, o seu corpo foi trasladado para a igreja paroquial de Balasar, onde presentemente se encontra, venerado pelos fiéis, que numerosos acorrem e se encomendam à sua intercessão.

Conhecida a grandeza e a consistência da fama de santidade, de que a Serva de Deus deu mostras em vida, na morte e depois da morte, o Arcebispo de Braga deu início à Causa de beatificação e canonização, celebrando o processo informativo ordinário (1967-1973), cuja autoridade e valor foram reconhecidos pela Congregação para as Causas dos Santos com decreto promulgado no dia 16 de Novembro de 1990. Completada a preparação da Posição, discutiu-se se a Alexandrina teria exercido as virtudes como os heróis. No dia 13 de Maio de 1995, realizou-se, com êxito feliz, o Congresso Peculiar dos Consultores Teólogos. Depois, os Cardeais e Bispos, na Sessão Ordinária do dia 7 de Novembro do mesmo ano, sendo Ponente da Causa o Ex.mo Senhor D. Ottorino Pedro Alberti, Arcebispo de Cagliari, reconheceram que a Serva de Deus Alexandrina Maria da Costa tinha observado de maneira heróica as virtudes teologais, cardeais e suas anexas.

Feita, finalmente, por parte do abaixo assinado Pró-Prefeito, uma cuidada relação de tudo isto ao Sumo Pontífice João Paulo II, Sua Santidade acolheu e ratificou os votos da Congregação para as Causas dos Santos, e mandou que fosse publicado o Decreto sobre as Virtudes heróicas da Serva de Deus.

Cumprido fielmente o estabelecido, chamados hoje à sua presença o abaixo assinado Pró-Perfeito, o Ponente da Causa e eu, Bispo Secretário da Congregação, bem como os demais como é hábito convocar, a todos eles o Santíssimo Padre solenemente declarou:

Consta que a Serva de Deus Alexandrina Maria da Costa, Virgem Secular, Membro da Associação dos Cooperadores de S. João Bosco, no caso e para os efeitos que lhe estão ligados, praticou as virtudes teologais da Fé, Esperança e Caridade para com Deus e para com o próximo, bem como as Virtudes cardeais da Prudência, Justiça, Temperança e Fortaleza, e suas anexas, em grau heróico.

E deu ordem para que este decreto fosse tornado público e referenciado nas actas da Congregação para as Causas dos Santos. 

Roma, 12 de Janeiro de 1996.

 

†       Alberto Bovone
Arcebispo titular de Cesareia na Numídia
Pro-Prefeito

 

†       Eduardo Nowak
Arcebispo titular de Luna
Secretário

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