O “Leão de Münster”
elevado à honra dos altares
Clemens
August conde von Galen (1878-1946) nasceu em 16 de março no Castelo
de Dinklage em Oldenburg,
Alemanha,
como décimo-primeiro de 12 irmãos. Seus pais foram o Conde Ferdinand
Heribert e Elisabeth, nascida Condessa von Spee. A família, de
antiga cepa católica, deu à Igreja almas de escol como arcebispos,
bispos, clérigos e numerosas freiras. E também ardorosos defensores
de seus direitos no campo temporal. O Conde Heribert foi destacado
deputado católico do Zentrumspartei (Partido do Centro) no Reichstag
(Parlamento alemão).
Em seu
lar túmido de virtudes cristãs, recebeu o jovem Clemens August uma
esmerada educação. Fre-quentou de 1890 a 1894 a escola jesuítica
Stella Matutina em Feldkirch.
Nos
dois anos seguintes estudou em Vechta, onde concluiu seu curso
colegial. Em 1897, acompanhado de seu irmão Franz, frequentou a
Faculdade de Fribourg, na Suíça. Foi ali que resolveu tornar-se
sacerdote. Em 1899 ingressou no seminário jesuíta de Innsbruck.
Ordenado em 28 de Maio de 1904 na Catedral de Münster, foi nomeado
no mês seguinte vigário capitular e capelão de seu tio,
bispo-auxiliar de Münster, Mons. Maximilian von Galen. Em 1906 foi
transferido para Berlim, onde se tornou capelão da paróquia de São
Mathias. Além de seus cuidados pastorais, dava aulas de Religião em
ginásio da cidade.
Altas virtudes
sacerdotais e humanas
No dia
5 de Setembro de 1933, Pio XI elevou-o ao episcopado, designando-lhe
a sede ocupada anteriormente por seu tio. No dia de sua sagração
episcopal, 28-10-1933, escreveu dele o Cardeal Schulte: “Aussi
Clement, qu’Auguste” (Igualmente Clemente e Augusto). O novo bispo
de Münster adoptou como lema de seu brasão as palavras “Nec laudibus
nec timore” (Não me movo nem por louvores nem por temor), indicando
destarte a firmeza de seu caráter. A seu respeito escrevia o
“Münstersche Anzeiger” de 12-9-1933: “Assinalam o novo bispo altas
virtudes sacerdotais e humanas. Como cura de almas em Berlim, [...]
levantou continuamente sua voz contra a crescente secularização da
vida, exigindo um retorno aos claros princípios da Igreja Católica”.
Oito
meses antes havia o Partido Nacional Socialista (nazista) galgado o
poder. Com sua doutrina pagã da raça ariana pura, o nazismo iria
entrar necessariamente em choque com a Igreja, a qual começou a
perseguir, de início discreta, mais tarde aberta e ferozmente.
Bispo heróico,
apelidado “Leão de Münster”
Mons.
von Galen logo percebeu os erros contidos na obra Mito do Século XX,
de Rosenberg, o ideólogo do partido nazista. E combateu-os rijamente
em sua Carta Pastoral de 19 de março de 1935, denunciando o “mito do
sangue” de Rosenberg como uma nova religião pagã.
Empolgados com a coragem de seu bispo, os católicos deram-lhe a
alcunha de “Leão de Münster”. Isso se deve não apenas a suas
críticas constantes aos erros nazistas, mas sobretudo por três
famosos sermões que proferiu nos dias 13 e 20 de Julho e 3 de Agosto
de 1941 na igreja de São Lamberto, de cujas torres se podem ver
ainda hoje penduradas as gaiolas nas quais apodreceram os restos
mortais dos chefes anabatistas.
Desafiando os
nazistas, condena a eutanásia
No
sermão do dia 13 de Julho, criticou o confisco de mosteiros e
conventos, apontando para um “ódio profundo contra o Cristianismo, o
qual querem exterminar”. Dia 20 de Julho, empregou a figura da
bigorna e do martelo: “Actualmente não somos martelo, mas bigorna.
[...] A bigorna não pode e nem precisa rebater. Ela precisa apenas
ser firme e dura“. No dia 3 de Agosto, increpou o crime da
eutanásia, praticado em pessoas idosas, paralíticas e com doenças
incuráveis. A reacção suscitada por este sermão foi imensa. Altos
funcionários do partido nazista exigiam que se movesse um processo
contra o bispo e o enforcassem numa praça pública de Münster.
Goebbels, o ladino ministro da propaganda, percebeu que tal medida
alienaria do esforço de guerra os católicos de toda a Alemanha. E
recomendou a Hitler que deixasse o “acerto de contas” para depois da
“vitória final”. Ele teve de viver com essa espada de Damócles sobre
sua cabeça e a aceitou heroicamente, sem recuar.
A
“vitória final” não houve. Com a capitulação da Alemanha em Maio de
1945 e o processo de Nuremberg, que julgou os crimes dos principais
chefes nacional-socialistas, o nazismo desapareceu ingloriamente do
cenário mundial, deixando atrás de si, a exemplo do comunismo,
morte, escombros e miséria.
O alemão ideal,
orgulho da Alemanha
Depois
de receber o chapéu cardinalício, Mons. von Galen ficou ainda alguns
dias na Itália, visitando soldados alemães em diversos campos de
concentração. Em meados de Março esperava-o em Münster uma acolhida
triunfal. Deus, porém, tinha outros planos para seu “Leão”.
Acometido por uma apendicite aguda, faleceu na tarde do dia 22 de
março de 1946.
Torre
da igreja de São Lamberto: cestos onde permaneceram restos de
anabatistas.
Em seu
sermão fúnebre, o Cardeal Frings salientou que, enquanto houvesse
uma diocese em Münster, Mons. von Galen seria o seu adorno. E
acrescentou: “Enquanto houver uma história do povo alemão, ele será
apontado como o alemão ideal, o orgulho da Alemanha”.
* * *
Em 9 de
Outubro de 2005 o Cardeal von Galen foi beatificado pelo Papa Bento
XVI, que na ocasião enalteceu a luta do novo bem-aventurado contra a
eutanásia.
Plínio
Correia de Olveira
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