Bartolomeu Maria Dal Monte nasceu na cidade académica de Bolonha, em
3 de Novembro de 1726. Filho de pais ricos, foi o quinto filho do
casal, mas os quatro anteriores tinha morrido poucos dias após o
nascimento, e sua mãe, Ana Maria Bassani fez uma promessa a são
Francesco da Paula.
Ele
cresceu na família, protegido com carinho e alegria, considerado o
mais precioso tesouro da casa. Pelos sete anos de idade, em 26 de
Abril de 1733, recebeu o sacramento da Confirmação, administrado
pelo Arcebispo de Bolonha, Cardeal Prospero Lam-bertini (1675-1758)
o qual, em 1740 foi eleito Papa, sob o nome de Bento XIV.
Dotado
duma inteligência viva, Bartolomeu foi esti-mulado pelos pais para o
estudo das humanidades, e ingressou no Colégio dos Jesuítas de Santa
Luzia, onde descobriu a sua vocação para o sacerdócio, vo-cação esta
que provocou a oposição de seu pai.
Mas
Bartolomeu Dal Monte, depois de ter conhecido São Leonardo de Porto
Maurício, o pregador fran-ciscano das “missões”, escolheu o
sacerdócio.
Foi
ordenado sacerdote em 20 de Dezembro de 1749 pelo administrador
diocesano, enviado pelo Papa Bento XIV. Depois da ordenação,
continuou os seus estudos, para obter o seu diploma de Teologia, o
que aconteceu em 30 de Dezembro de 1751.
Após os
primeiros anos dedicados à aprendizagem da arte da pregação, o Padre
Bartolomeu Maria Dal Monte empreendeu uma actividade missionária
ex-traordinária, começando pelas paróquias da diocese de Bolonha e,
em seguida, ao longo de seus 26 anos de pregação generosa, ampliou
seu campo de acção em 62 dioceses do Norte e na Europa Central.
Ele
pregou centenas de missões e promoveu retiros para o clero,
religiosos e leigos, sendo testemunha muitas conversões e
reconciliações entre pessoas que se detestavam.
A sua
pregação sempre foi livre de excessos e de penitências inúteis, mas
sempre usou a palavra com força, simplicidade e método, pelo que
veio a ser chamado o “missionário da discrição”.
Ele
seguiu no ministério do próprio Cristo: intransigente em proclamar a
verdade, mas bondoso e compassivo com os pecadores, verdadeiro
sacerdote de Deus, dedicando-se totalmente à salvação das almas,
nutrindo uma grande devoção a Maria, Mãe de Misericórdia.
Em
1774, aos 48 anos, foi chamado pelo Cardeal Vigário de Roma para
pregar a missão solene, na Praça Navona, em preparação do Ano Santo
de 1775 e para dirigir os exercícios espirituais do clero romano na
Igreja do Gèsu, o que testemunham a alta consideração e reputação,
que gozava como pregador.
Papa
Pio VI queria mantê-lo permanentemente em Roma, mas ele preferiu
continuar a sua missão de evangelização entre os povos do campo. O
próprio Arcebispo de Bolonha que o escolhera para Reitor do
Seminário, acabou igualmente por deixá-lo livre, para que
continuasse as pregações durante as esgotantes missões que promovia.
Devorado pelo zelo apostólico, ofereceu-se para as missões na Índia,
mas por causa da sua debilitada saúde, foi dissuadido disso pelos
seus superiores.
Utilizando a propriedade herdada de seu pai, fundou a “Pia Obra das
Missões” para dar solidez e continuidade às missões, cercou-se de
colaboradores sensíveis e inteligentes.
Mas,
acima de tudo, ele queria que o seu trabalho fosse uma fonte de
apóstolos, de padres diocesanos em plena comunhão com o bispo,
totalmente disponíveis para a pregação: ele estava convencido de que
não se podia ser autodidacta na vida difícil de pregador.
Criou
estruturas adequadas para o ensino dos seus colaboradores,
dando-lhes interessantes escritos espirituais, elaborados por ele
mesmo. Alguns destes escritos foram publicados pelo Vaticano em
1906.
Padre
Bartolomeu era um homem de sólida formação cultural, formado em
teologia, com total dedicação a Cristo, confiado na devoção a Maria,
um acérrimo defensor da dignidade do sacerdócio, um excelente
preparador “missionário” e muito zeloso e pode ser considerado,
ainda hoje, como um modelo de espiritualidade sacerdotal ao serviço
da evangelização.
Apenas
dois meses antes de terminar a sua existência, esgotado pelas
fadigas apostólicas, durante sua última missão, ele exclamou: “Eu
vou morrer em Bolonha, na véspera de Natal” e, efectivamente, na
sequência de complicações pulmonares, morreu em 24 de Dezembro de
1778, confortado pelos sacramentos e na presença do arcebispo, ele
tinha apenas 52 anos de idade.
Enterrado na Basílica de São Petrónio em Bologna foi declarado
venerável em 23 Janeiro de 1921 pelo Papa Bento XV e beatificado em
Bolonha em 27 de Setembro de 1997, pelo Papa João Paulo II.
Palavras do Papa no dia da beatificação
No dia
27 de Setembro de 1997, o saudoso Papa João Paulo II, a quando da
sua visita pastoral a Bolonha (Itália) para ali participar às
celebrações do Congresso Eucarístico e à beatificação do venerável
Bartolomeu Maria Dal Monte, começou a sua homilia nestes termos:
«Caríssimos
Irmãos e Irmãs! É este o dia da beatificação do sacerdote Bartolomeu
Maria Dal Monte. A Igreja inteira, e em particular a Comunidade
cristã de Bolonha que o teve por filho, alegra-se porque hoje o seu
nome é inscrito de modo solene no “livro da vida” (Ap 21, 27).
O
novo Beato despendeu a sua não longa existência terrena no anúncio
da “palavra da verdade, o Evangelho” (Cl 1, 5). O Senhor serviu-Se
dele e da sua fidelidade, para fazer chegar essa palavra íntegra,
viva e vivificante a tantas pessoas que estão em busca. Cumpria-se
assim, também através da sua pessoa, a promessa de Jesus: “E Eu
estarei sempre convosco, até ao fim do mundo”» (Mt28,
20).
Depois,
como se quisesse lembrar aos bolonheses a riqueza da sua história
religiosa, continuou:
«O Padre Bartolomeu Maria Dal Monte, caríssimos
bolonheses, é a última pérola que veio enriquecer o santoral da
vossa Arquidiocese. Um livro já rico de testemunhos exemplares do
Evangelho: Apolinário, Zama, Vital, Agrícola, Prócolo, Félix,
Petrónio, Lúcia de Settefonti, Guarino, Domingos, Diana, Cecília,
Amata, Imelda Lambertini, Nicolau Albergati, Catarina de'Vigri,
Marcos de Bolonha, Ludovico Morbioli, Tiago de Ulma, Arcângelo
Canetoli, Helena Duglioli, Clélia Barbieri, Elias Facchini, e ainda
tantos outros.
Um livro de santos e beatos, no qual se encontra
traçada a identidade mais verdadeira da Bolonha cristã, assim como
desta vossa terra rica de arte e de cultura. Um livro que todos
deveriam apreciar: tanto os que acreditam como os que não crêem. Um
livro a ser amado, como precisamente se ama a própria identidade
mais autêntica.
O rosto de Bolonha é também o dos seus santos, que
inspiraram na verdade e na caridade do Evangelho a sua palavra e a
sua acção entre os homens e as mulheres desta cidade, plasmando-lhe
a fisionomia original e ainda hoje viva».
Mais
adiante o santo Papa continua:
«Preciosa aos olhos de Deus, a santidade não é
inútil ao mundo. Ela não só edifica o corpo de Cristo, mas deixa
vestígio incancelável no suceder-se dos eventos do tempo e na
articulada composição da própria sociedade.
A actividade terrena de Bartolomeu Maria Dal Monte,
embora assinalada por um empenho tipicamente intraeclesial, como a
pregação missionária ao povo e a formação dos sacerdotes, exerceu
uma influência não pequena no próprio tecido civil da nação,
contribuindo de maneira eficaz para promover nele as componentes da
justiça, da concórdia e da paz. É também através da obra de
missionários na terra pátria, como o novo Beato, que o povo italiano
pôde conservar, no decurso dos séculos, aquele património de valores
humanos e cristãos que representa o seu tesouro mais precioso e
constitui o contributo mais significativo, que ele pode oferecer à
construção da nova Europa.
A beatificação de Bartolomeu Maria Dal Monte
insere-se de modo providencial nas celebrações do Congresso
Eucarístico, porque põe em grande evidência o vínculo existente
entre um modo consciente de viver a espiritualidade eucarística e o
empenho pessoal e eclesial na evangelização.
Na Itália do século XVIII, situações de alastrante
ignorância religiosa e fenómenos de preocupante descristianização,
que contagiavam cidades e zonas rurais, foram contrastadas, de modo
surpreendente, por aqueles santos sacerdotes que se dedicaram com
generosidade às missões populares. Entre eles esteve também São
Leonardo de Porto Maurício, que conheceu pessoalmente o Padre
Bartolomeu Maria e o encorajou a empreender esta actividade
pastoral.
A fama da eficácia das missões populares e da
santidade e generosidade do Padre Bartolomeu difundiu-se tão
rapidamente que, com dificuldade, ele conseguia atender a todos os
pedidos. Por ocasião da sua morte, com apenas 52 anos de idade,
tinha pregado missões populares e cursos de exercícios espirituais
em mais de 60 dioceses italianas.
Na época em que a formação para o sacerdócio não
conhecia o longo percurso actual do Seminário, o Padre Bartolomeu
Maria intuiu a exigência de sacerdotes diocesanos que, em plena
comunhão com o próprio Bispo, estivessem totalmente disponíveis para
a pregação. A fim de os preparar de modo adequado instituiu a “Pia
Obra das Missões”, que se tornou um verdadeiro e próprio centro de
apóstolos. Estava convicto de que não se podia ser autodidacta na
difícil via da santidade. Por este motivo, preocupou-se em dispor
adequadas estruturas formativas para os seus colaboradores,
dedicando-lhes interessantes escritos espirituais redigidos pelo
próprio punho.
Mas de onde o Padre Bartolomeu Maria hauria tanto
estímulo e vigor para tão excepcional ministério? A Santa Missa, a
adoração eucarística e a confissão sacramental estavam no centro da
sua vida, da sua acção missionária e da sua espiritualidade. Desta
piedade eucarística encontramos traços frequentes nos seus escritos,
através dos quais transparece a obsessão quotidiana pela salvação
das almas, prioridade do seu empenho ascético e pastoral.
A
sua inteira existência foi plasmada tendo como base o ministério de
Cristo, intransigente em proclamar a Verdade e em estigmatizar o
vício, mas acolhedor e misericordioso para com os pecadores.
Tornou-se, assim, ícone vivo d’Aquele que é “rico em misericórdia”
(Ef 2, 4).
O
novo Beato amava, além disso, com enlevo interior a Virgem Mãe de
Deus. Tendo nascido e crescido na cidade que se honra da particular
protecção de Nossa Senhora de São Lucas, o Padre Bartolomeu Maria
nutria por Ela uma terna devoção. Venerava-a e fazia invocá-la com o
título de “Mater Misericordiae – Mãe da Misericórdia”. Gostava de
repetir: “Cada pensamento, cada impulso, cada palavra: sim, tudo
tive por Maria”.
O Beato Bartolomeu Dal Monte resplandece esta tarde
diante de nós como testemunha de Cristo, particularmente sensível às
exigências dos tempos modernos. Ele encoraja todos a enfrentar com
ardor e confiança os desafios da nova evangelização. Um vasto campo
de trabalho missionário está diante de nós, no limiar do terceiro
milénio cristão».
Que
«o seu incansável zelo apostólico sirva de encorajamento e apoio
para vós, religiosos e religiosas, pessoas consagradas, chamados a
um peculiar testemunho na Igreja de Cristo; sirva-o para vós,
queridos jovens, esperança de um mundo renovado pelo amor; para vós,
prezadas famílias, pequenas igrejas domésticas; para vós, caros
doentes, associados de maneira mais intensa aos sofrimentos de
Cristo.
A
nova evangelização é tarefa de cada crente. Estai conscientes disto.
(…) Deus chama-nos a conservar a “palavra da verdade, o Evangelho”
(Cl 1, 5). O fervor missionário que consumiu a vida do Beato
Bartolomeu Maria Dal Monte é o modelo que hoje a Igreja entrega aos
seus filhos».
Tradução e adaptação: Afonso Rocha |