António
Neyrot nasceu em Rívoli, no Piemonte. Moço, deixou a terra natal e
foi apresentar-se ao convento de
São
Marcos de Florença, então cedido aos irmãos pregadores de Fiesole, a
pedido de Santo Antonino. Neyrot foi o derradeiro a receber o hábito
e a professar no priorato de Antonino.
Inconstante, António, muitas vezes, abandonava-se aos voos da
imaginação. Assim, sentiu desejos de passar à Sicília.
Embora
Antonino lhe pedisse que não o fizesse, tendo-o mesmo ameaçado,
António conseguiu autorização superior, e partiu. Tempos depois, de
volta a Nápoles, foi feito prisioneiro por piratas, a meio caminho.
Levado a Túnis com outros passageiros, prisioneiro, lembrou-se das
predições de Antonino.
De
ânimo mais ou menos exaltado, levou o cativeiro com grande
impaciência. E a fé, a pouco e pouco, foi-se abatendo, abatendo, até
que chegou ao ponto de renegar o Senhor Jesus Cristo, publicamente,
e contratar um casamento sacrílego.
A
Túnis, constantemente, chegavam mercadores vindos da Itália. E, um
dia, um deles. António ficou sabendo que Antonino falecera. Foi um
choque. E, sabedor dos grandes milagres que ocorriam à tumba do
bispo amigo, profundamente abalado, conjurou o bem-aventurado a
socorrê-lo.
Antonino apareceu-lhe, restituiu-lhe a perdida confiança, e António
arrependeu-se das extravagâncias de há pouco. Para melhor reparar o
mal, decidiu fazer a abjuração na presença das testemunhas mesmas da
sua apostasia.
Mudado,
todo dado, e com fervor, aos exercícios da piedade, penitente, o
bem-aventurado, na presença do rei, com grande coragem, disse-lhe
que cria em Jesus Cristo, e que detestava imensamente o crime que
cometera. Convidando-o, brandamente, a voltar a Maomé, o rei viu,
com surpresa, que a determinação do antigo cativo era inabalável.
Preso, António, edificando os demais prisioneiros, tomava para si um
único pedaço de pão e distribuía o resto entre os companheiros.
Dias
mais tarde, levado à presença do juiz, este, inutilmente, tentou
fazê-lo apostatar. Condenou-o então, à morte: teria os membros
partidos e o corpo amassado.
Levado,
sem tardança, ao lugar do suplício, António, ali, pediu aos
carrascos, tirando o hábito, que tornara a envergar desde o
aparecimento de Antonino:
— Guardai este hábito. Se vós o preservardes de toda a mancha, os
cristãos vos recompensarão.
Em
seguida, pedindo uns momentos para a última oração, ajoelhou-se e
dirigiu-se a Deus, ardentemente. Como demorasse, a populaça,
enraivecida e impaciente, lapidou-o. E, acendendo imensa fogueira,
procuraram queimar-lhe o corpo, mas as chamas sobre ele não tiveram
qualquer efeito.
Atirado, então, a uma fossa cheia de imundices, ali o deixaram. Os
mercadores genoveses que com António se davam, recolheram-no,
lavaram respeitosamente e o enviaram para Génova, para, naquela
cidade, ser enterrado, o que se deu a 10 de Abril de 1460.
Inúmeros milagres foram, naquela oportunidade, operador pelo Senhor,
que assim manifestava a glória do bem-aventurado servidor.
Amadeu
IX, duque da Sabóia, transferiu-lhe o corpo para Rívoli. Clemente
XIII aprovou-lhe o culto em 1766.
(Livro Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume VI, p. 235 à 237) |