Ao
longo dos séculos, muitas Beatas e Santas da Igreja Católica
exerceram a profissão de empregada doméstica durante um tempo mais
ou menos longo. Elas levaram às famílias em que trabalhavam, e aos
fiéis
em
geral, o exemplo das virtudes católicas. Muitas delas deixaram sua
ocupação para entrar em alguma Congregação religiosa, algumas se
tornaram fundadoras de Institutos, ou ainda membro de alguma Ordem
Terceira.
Entretanto, algumas permaneceram em sua profissão até o fim da vida,
santificando-se nas provações inerentes ao cargo, aceitando com
alegria a posição que ocupavam dentro das casas em que trabalhavam,
atraindo a admiração de seus patrões, e, em muitos casos, levando-os
à conversão, fazendo também um apostolado intenso junto aos mais
necessitados.
Tais
foram: Santa Zita (1218-1278), empregada doméstica de Lucca
(Itália), padroeira da cidade e nomeada padroeira das domésticas por
Pio XII em 26 de Setembro de 1953, festejada no dia 27 de Abril, e a
Beata Ângela (Aniela) Salawa, cuja vida veremos em seguida.
* * *
A
décima primeira dos doze filhos de Bartolomeu Salawa e de Eva
Bochenek nasceu em Siepraw, próximo de Cracóvia, Polónia, no dia 9
de Setembro de 1881. Recebeu no Baptismo o nome de Ângela (Aniela).
O pai era artesão e a mãe inteiramente dedicada aos numerosos
filhos, aos quais ensinava a piedade, a modéstia e a operosidade.
Foi sob a direcção da mãe que Ângela se preparou para a Primeira
Comunhão aos 12 anos, segundo o costume da época.
Aos 15
anos trabalhava para uma família de Siepraw, cuidando das crianças,
ordenhando as vacas e realizando outros pequenos trabalhos. Em 1897
voltou para casa, e resistia aos insistentes conselhos do pai para
que ela constituísse sua própria família. Há muito Ângela se sentia
inclinada ao celibato.
Transferiu-se para Cracóvia onde trabalharia como empregada
doméstica. Nos primeiros dias ficou hospedada na casa da irmã mais
velha, Teresa – também ela empregada doméstica – que sabia que
Ângela não se sentia chamada ao matrimónio.
Fiel às
inspirações do Espírito Santo e aos conselhos dos directores
espirituais, a jovem progredia rapidamente na santidade. Cumpria com
perfeição todos os seus deveres de estado e empregava o tempo livre
em leituras espirituais para unir-se cada vez mais a Nossa Senhora e
a compreender os mistérios de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Em
Cracóvia trabalhou inicialmente para a família Kloc, deixando-a
pouco tempo depois por causa do assédio do patrão. Trabalhou depois
para algumas famílias da região e retornou para Cracóvia para
assistir a morte de Teresa, em 25 de Janeiro de 1899, perda que lhe
causou muito sofrimento, pois tinha grande afecto pela irmã.
Encontrou forças para enfrentar a perda prolongando o tempo de
orações na igreja.
Sob a
direcção do padre jesuíta Estanislau Mieloch se consagrou a Deus com
o voto de castidade perpétua, voto que já fizera na adolescência. Em
1900, inscreveu-se na Associação de Santa Zita de Cracóvia, entidade
que promovia a assistência às domésticas. Dedicava-se a um
apostolado obscuro, mas fecundo, junto às domésticas de Cracóvia.
Ela as reunia, aconselhava, dirigia. Apesar da saúde precária,
estava sempre alegre e sociável, se vestia bem, não para o mundo,
mas para Deus.
Em
1911, sofreu dolorosa moléstia, seguida da perda da mãe e da jovem
senhora a quem servia com afecto e dedicação. Além destas provações,
vê-se abandonada pelas companheiras. Naquele período de grandes
sofrimentos, confiando somente em Deus, unindo-se a Ele mais ainda
na oração e na meditação, foi agraciada com fenómenos místicos.
No dia
15 de Maio de 1912, tornou-se membro da Ordem Terceira Secular de
São Francisco, recebendo o hábito na igreja conventual dos
Franciscanos, e no dia 6 de Agosto de 1913 fez sua profissão.
Durante
a 1ª Guerra Mundial, não sem incómodos voluntariamente assumidos,
prestava dedicado e zeloso auxílio aos feridos, doentes e
prisioneiros de guerra no Hospital de Cracóvia, onde respeitosamente
era chamada “a santa senhorita”.
Em
1916, por haver censurado a amante de seu patrão, o advogado
Fischer, foi despedida daquela casa aonde trabalhava desde 1905.
Seguiram-se alguns anos sem trabalho e com a doença progredindo, mas
com o consolo dos fenómenos místicos.
Em
1918, com as forças debilitadas, deixou também os trabalhos
voluntários e recolheu-se a uma cela paupérrima, onde durante quatro
anos viveu em íntima contemplação dos mistérios divinos, sustentada
por Maria Santíssima e pela Comunhão Eucarística. Esta era levada
diariamente pelo seu confessor. As companheiras inconsoláveis se
alternavam em seu tugúrio para assisti-la.
Ela
oferecia todos os seus sofrimentos pela conversão dos pecadores,
pela salvação das almas, pela expansão missionária da Igreja. Em
Fevereiro de 1922, num último ato de devoção, ofereceu-se a Deus
como vítima pela propagação do Seu Reino na Polónia e no mundo.
Anotou em seu Diário: “Pensando em minha vida, creio estar na
vocação, no local e no estado para os quais Deus me havia chamado
desde a infância”.
Por fim
Ângela consentiu em deixar aquela cela e foi levada para a
enfermaria de Santa Zita, onde, após ter recebido os Sacramentos,
faleceu serenamente no dia 12 de Março de 1922, em extrema pobreza e
com a fama de santidade.
No dia
13 de Maio de 1949, ao ser aberto o processo diocesano para a sua
beatificação, seus despojos foram transladados do cemitério para a
Basílica de São Francisco de Cracóvia.
João
Paulo II proclamou-a Beata no dia 13 de Agosto de 1991, em Cracóvia,
e sua festa é celebrada no dia 12 de Março.
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