A
Igreja coreana tem, talvez, uma característica única no mundo
católico. Foi fundada e estabelecida apenas por leigos. Surgiu no
início de 1600, a partir dos contatos anuais das delegações coreanas
que visitavam
Pequim,
na China, nação que sempre foi uma referência no Extremo Oriente
para troca de cultura.
Ali
os coreanos tomaram conhecimento do cristianismo. Especialmente por
meio do livro do grande padre Mateus Ricci, "A verdadeira
doutrina de Deus". Foi o leigo Lee Byeok que se inspirou nele
para, então, fundar a primeira comunidade católica atuante na
Coréia.
As
visitas à China continuaram e os cristãos coreanos foram, então,
informados, pelo bispo de Pequim, de que suas atividades precisavam
seguir a hierarquia e organização ditada pelo Vaticano, a Santa Sé
de Roma. Teria de ser gerida por um sacerdote consagrado, o qual foi
enviado oficialmente para lá em 1785.
Em pouco tempo, a comunidade cresceu, possuindo milhares de fiéis,
Porém começaram a sofrer perseguições por parte dos governantes e
poderosos, inimigos da liberdade, justiça e fraternidade pregadas
pelos missionários. Tentando acabar com o cristianismo, matavam seus
seguidores. Não sabiam que o sangue
dos mártires é semente de cristãos, como já dissera o imperador
Tertuliano, no início dos tempos cristãos. Assim, patrocinaram uma
verdadeira carnificina entre 1785 e 1882, quando o governo decretou
a liberdade religiosa.
Foram dez mil mártires. Desses, a Igreja canonizou muitos que foram
agrupados para uma só festa, liderados por André Kim Taegon, o
primeiro sacerdote mártir coreano. Vejamos o seu caminho no
apostolado.
André nasceu em 1821, numa família da nobreza coreana, profundamente
cristã. Seu pai, por causa das perseguições, havia formado uma
"Igreja particular" em sua casa, nos moldes daquelas dos cristãos
dos primeiros tempos, para rezarem, pregarem o Evangelho e receberem
os sacramentos. Tudo funcionou até ser denunciado e morto, aos
quarenta e quatro anos, por não renegar a fé em Cristo.
André tinha quinze anos e sobreviveu com os familiares, graças à
ajuda dos missionários franceses, que os enviaram para a China, onde
o jovem se preparou para o sacerdócio e retornou diácono, em 1844.
Depois, numa viagem perigosa vivida, tanto na ida quanto na volta,
num clima de perseguição, foi para Xangai, onde o bispo o ordenou
sacerdote.
Devido à sua condição de nobre e conhecedor dos costumes e
pensamento local, obteve ótimos resultados no seu apostolado de
evangelização. Até que, a pedido do bispo, um missionário francês,
seguiu em comitiva num barco clandestino para um encontro com as
autoridades eclesiásticas de Pequim, que aguardavam documentos
coreanos a serem enviados ao Vaticano. Foram descobertos e presos.
Outros da comunidade foram localizados, inclusive os seus parentes.
André era um nobre, por isso foi interrogado até pelo rei, no
intuito de que renegasse a fé e denunciasse seus companheiros. Como
não o fez, foi severamente torturado por um longo período e depois
morto por decapitação, no dia 16 de setembro de 1846 em Seul,
Coréia.
Na
mesma ocasião, foram martirizados cento e três homens, mulheres,
velhos e crianças, sacerdotes e leigos, ricos e pobres. De nada
adiantou, pois a jovem Igreja coreana floresceu com os seus
mártires.
Em
1984, o papa João Paulo II, cercado de uma grande multidão de
cristãos coreanos, canonizou santo André Kim Taegon e seus
companheiros, determinando o dia 20 de setembro para a celebração
litúrgica.
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