PRIMERA PARTE
— Alexandrina Maria
da Cos-ta nasceu em Balasar, Portu-gal.
— Ela permaneceu
mais de treze anos sem comer nem beber, alimentando-se
ape-nas da Sagrada Comunhão quotidiana.
— Durante muitos
anos, ela viveu, cada primeira sexta-feira do mês, a Paixão
do Se-nhor.
— Jesus ordenou-lhe
que es-crevesse ao Papa, pedindo que este consagrasse o
mun-do ao Coração Imaculado da Virgem Santíssima, sua Mãe.
— Ela faleceu em
odor de santidade no dia 13 de Ou-tubro de 1955 — aniversário
da última aparição de Maria em Fátima.
— O Santo Padre João
Paulo II beatificou-a em 25 de Abril de 2004. |
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A
Alexandrina de Balasar é já bem conhecida de quase todos os
portugueses, sobretudo desde que o Santo Padre João João Paulo II a
elevou ao grau dos Bem-aventurados, no dia 25 de Abril de 2004.
Quase
todos sabem que foi graças à sua intervenção dinâmica e convincente
que o Santo Padre Pio XII consagrou o mundo ao Coração Imaculado de
Maria, em 31 de Outubro de 1942: estava então o mundo envolvido numa
guerra que parecia não ter fim.
Mas
poderá ainda haver alguém que desconheça até mesmo a existência da
Beata Alexandrina, o que seria quase uma “heresia”. Para esses
eventuais desconhecedores da vida e das obras da “Estrela de
Balasar”, aqui ficam algumas informações sobre a sua vida e seus
actos durante cerca de cinquenta e quatro anos.
Alexandrina Maria da Costa nasceu em Balasar — simpática aldeia a
uns 50 km do Porto — no dia 30 de Março de 1904.
Filha
de Ana Maria da Costa, mulher trabalhadeira e profundamente
cristã — apesar de alguns deslizes — Alexandrina recebeu uma boa
educação cristã, assim como o amor ao trabalho.
Desde
muito pequena ela teve, para com a Santíssima Virgem, uma
extraordinária devoção e, desde essa mesma época remota, começou a
chamá-la com muita ternura “Mãezinha”.
Em
1911, para adquirir os rudimentos da instrução primária, foi viver,
acompanhada de sua irmã Deolinda, para a Póvoa de Varzim, visto a
aldeia não estar dotada de escola para as meninas. |
« Foi na
Póvoa de Varzim — conta a
Beata Alexandrina — que fiz a minha Primeira Comunhão, com sete
anos
de idade. Foi o Senhor P.e Álvaro Matos quem me perguntou a doutrina, me
confessou e me deu pela vez primeira a Sagrada Comunhão. Como prémio, recebi
um lindo lenço e uma estampazinha. Quando comunguei, estava de joelhos,
apesar de pequenina, e fitei a Sagrada Hóstia que ia receber de tal maneira
que me ficou tão gravada na alma, parecendo-me unir a Jesus para nunca mais
me separar d’Ele. Parece que me prendeu o coração. A alegria que eu sentia
era inexplicável. A todos dava a boa nova. A encarregada da minha educação
levava-me a comungar diariamente ».
Nesse
mesmo ano, « foi em Vila do Conde
onde recebi o Sacramento da Confirmação, ministrado pelo Ex.mo e Rev.mo
Senhor Bispo do Porto.
Lembro-me
muito bem desta cerimónia e recebi-a com toda a consolação. No momento em
que fui crismada, não sei o que senti em mim; pareceu-me ser uma graça
sobrenatural que me transformou e me uniu cada vez mais a Nosso Senhor.
Sobre isto, queria exprimir-me melhor, mas não sei ».
Este período
“estudioso” na Póvoa de Varzim durou dezoito meses, findos os quais,
Alexandrina e Deolinda regressaram à terra natal, para junto de sua mãe.
Logo a seguir deu-se a mudança de casa : Ana Maria e suas filhas vieram
viver para perto da igreja paroquial numa fracção chamada Calvário, como se
o Senhor quisesse mostrar desde então qual seria a missão da jovem menina:
ser vítima pelos pecadores e viver a paixão desde o Jardim das Oliveiras até
ao Calvário.
A cruz de terra
Em 1832
portanto, como acima dizia, ao irem para a Missa, os paroquianos de Balasar
descobriram, face à igreja, uma cruz de terra. Esta cruz era composta de terra
escura, mais escura do que aquela que a rodeava. Intrigados com esta “aparição”
estranha, foram chamar o abade, o qual, por prudência, a mandou apagar,
misturando as duas terras. Imediatamente a cruz voltou a formar-se e uma vez
mais foi apagada. Mas de nada serviu, visto que de novo a cruz voltou a
formar-se. Fez-se então apelo às autoridades competentes que fizeram desse facto
uma descrição simples mas concisa, atestando assim a veracidade do facto. O
senhor Abado escreveu também ao Arcebispo de Braga, dando-lhe conta do facto
ocorrido na sua paróquia.
A fé e a piedade dos paroquianos
sendo grande e sincera, decidiram então de proteger a dita cruz com uma capela,
tal como a podemos admirar ainda à entrada do adro da igreja de Balasar. Esta
capela é visitada por todos aqueles que acorrem a Balasar — cada vez mais
numerosos — para na Igreja, sobre a campa da Beata Alexandrina, agradecerem as
graças recebidas ou pedir o auxílio do Senhor pela intercessão da “Santinha” de
Balasar.
* * * * *
Mas retomemos
o fio da história e voltemos para junto da Alexandrina, quando ela já tem 14
anos.
A escolaridade terminada, era necessário
agora “ganhar o pão de cada dia”, um pão “amassado com lágrimas et
cosido com muitos sacrifícios”. Apesar da sua juvenilidade, Alexandrina foi
trabalhar para casa dum lavrador seu vizinho. Todavia ela não ficou lá muito
tempo, visto que este homem de certo modo brutal e malcriado, lhe dava maus
tratos e, ainda para mais era muito “desbocado”, dizendo, a torto e a direito
grandes “palavrões” que a menina não estava acostumada a ouvir e ainda menos a
dizer.
Desde que posta ao corrente destes
incidentes frequentes, Ana Maria, a mãe da Alexandrina, não a deixou voltar para
tal emprego que até aí só lhe tinha procurado dissabores, como a queda abaixo
dum álamo.
O salto
Alguns anos depois, este mesmo homem vai
ser um dos infelizes protagonistas do que a seguir nos vai
contar
a própria Alexandrina:
« Uma ocasião, estando eu, minha irmã
e uma pequena mais velha que nós a trabalhar na costura, avistámos três homens:
o que tinha sido meu patrão, outro casado e um terceiro solteiro. Minha irmã,
percebendo alguma coisa e vendo-os seguir o nosso caminho, mandou-me fechar a
porta da sala. Instantes depois, sentimos que eles subiam as escadas que davam
para a sala e bateram à porta. Falou-lhes minha irmã. O que tinha sido meu
patrão mandou abrir a aporta, mas, como não tivessem lá ora, não lhes abrimos a
porta. O meu antigo patrão conhecia em a casa e subiu por umas escadas pelo
interior da habitação e os outros ficaram à porta onde tinham batido. Ele, não
podendo entrar pelo interior por um alçapão que estava fechado e resguardado por
uma máquina de costura, pegou num maço e deu fortes pancadas nas tábuas até
rebentar o alçapão, tentando passar por aí. Minha irmã, ao ver isto, abriu a
porta da sala para fugir, mas essa ficou presa, e eu, ao ver tudo isto, saltei
pela janela que estava aberta e que deitava para o quintal. Sofri um grande
abalo porque a janela distava do chão quatro metros. Quis levantar-me logo, mas
não pude, porque me deu uma forte dor na barriga. Com o salto caiu-me o anel que
usava, sem dar por ela. Cheia de coragem, peguei num pau e entrei pela porta do
quintal para o eirado onde estava a minha irmã a discutir com os dois casados. A
outra pequena estava na sala com o solteiro. Eu aproximei-me deles e chamei-lhes
«cães» e disse que o deixavam vir a pequena ou então gritava contra eles.
Aceitaram a proposta e deixaram-na ir.
Foi nesta altura que dei pela falta
do anel e disse-lhes de novo: «Seus cães, por vossa causa perdi o meu anel». Um
deles, que trazia os dedos cheios de anéis, disse-me: «Escolhe daqui um.» Mas
eu, toda zangada, respondi: «Não quero.» Não lhes demos mais confiança; eles
retiraram-se e nós continuámos a trabalhar. De tudo isto não contámos a ninguém,
mas minha mãe veio a saber tudo. Pouco depois, comecei a sofrer mais e toda a
gente dizia que foi do salto que dei. Os médicos também afirmaram que muito
concorrera para a minha doença ».
Efectivamente, pouco tempo depois, a
jovem Alexandrina foi obrigada a recolher ao leito, para não mais se levantar,
salvo raríssimas excepções, como veremos mais longe.
Nos primeiros tempos da sua doença, a
jovem — bela e cheia de vida pouco antes — procurou passar o tempo jogando às
cartas com as moças da sua idade que a visitavam. Mas, este género de distracção
deixou de a interessar e, pouco a pouco o seu comportamento modificou-se por
completo, tal como ela nos explica:
« Morreram os meus desejos de ser curada
e para sempre, sentindo cada vez mais ânsias de amor ao sofrimento e de só
pensar em Jesus ».
Foi assim que uma causa “infeliz” deu
origem a uma vida de amor ao sofrimento, a uma felicidade na dor a uma doação
inteira e total para o bem das almas e a maior glória de Deus.
Foi nesta época de transição e de
intenso amor que ela escreveu o hino aos Sacrários, obra prima de literatura
mística que só o “hino ao irmão Sol” de São Francisco de Assis pode
igualar. Foi ainda neste período particular de grande “infusão” divina que
Alexandrina as palavras que iriam ser o lema de toda a sua vida futura.
Hino aos Sacrários
Mas, qual é este “Hino aos Sacrários”?
Leiamos:
« Ó meu
Jesus, eu quero que cada dor que sentir, cada palpitação do meu coração, cada
vez que
respirar,
cada segundo das horas que passar, sejam
actos de amor para os vossos Sacrários.
Eu quero que cada movimento dos
meus pés, das minhas mãos, dos meus lábios, da minha língua, cada vez que abrir
os meus olhos ou os fechar, cada lágrima, cada sorriso, cada alegria, cada
tristeza, cada atribulação, cada distracção, contrariedades ou desgostos, sejam
actos de amor para os vossos Sacrários.
Eu quero que cada letra das
orações que reze, ou oiça rezar, cada palavra que pronuncie ou oiça pronunciar,
que leia ou oiça ler, que escreva ou veja escrever, que conte ou oiça contar,
sejam
actos de amor para com os vossos
Sacrários.
Eu quero que cada beijinho que Vos
der nas vossas santas imagens ou da vossa e minha querida Mãezinha, nos vossos
santos ou santas, sejam
actos de amor para os vossos Sacrários.
Ó Jesus, eu quero que cada gotinha
de chuva que cai do céu para a terra, toda a água que o mundo encerra, oferecida
às gotas, todas as areias do mar e tudo o que o mar contém, sejam
actos de amor para os vossos Sacrários.
Eu Vos ofereço as folhas das
árvores, todos os frutos que elas possam ter, as florzinhas oferecidas pétala
por pétala, todos os grãozinhos de sementes e cereais que possa haver no mundo,
e tudo o que contêm os jardins, campos, prados e montes, ofereço tudo como
actos de amor para os vossos Sacrários.
Ó Jesus, eu Vos ofereço as penas
das avezinhas, o gorjeio das mesmas, os pêlos e as vozes de todos os animais,
como
actos de amor para os vossos Sacrários.
Ó Jesus, eu Vos ofereço o dia e a
noite, o calor e o frio, o vento, a neve, a lua, o luar, o sol, a escuridão, as
estrelas do firmamento, o meu dormir, o meu sonhar, como
actos de amor para os vossos Sacrários.
Ó Jesus,
eu Vos ofereço tudo o que o mundo encerra, todas as grandezas, riquezas e
tesouros do mundo, tudo quanto se passar em mim, tudo quanto tenho costume de
oferecer-Vos, tudo quanto se possa imaginar, como
actos de amor para os vossos Sacrários.
Ó Jesus,
aceitai o Céu, a terra, o mar, tudo, tudo quanto neles se encerra, como se esse
«tudo» fosse meu e de tudo pudesse dispor e oferecer-Vos como
actos de amor para os vossos
Sacrários ».
Sempre que recebia a Comunhão, ela
recitava o “seu” hino aos Sacrários e então uma chama devastadora parecia
irromper em seu coração e transformá-la toda numa chama ardente e
irresistível... Nesses momentos de intensa vivência espiritual, ela ouvia estas
palavras que lhe pareciam ser ditas por Jesus:
Sofre, amar reparar
Algumas vezes, chegando ao auge do que é
humanamente suportável, ela ousou perguntar:
“Mas que quereis que eu faça?”
A resposta era invariável:
Sofrer, amar, reparar.
Pouco a pouco ela tomou consciência da
sua missão pessoal sobre a terra e, generosamente fez o “voto mais perfeito“,
oferecendo-se a Jesus como vítima pelos pecadores.
"Dás-me o teu
corpo?"
Pouco depois, em 1934 — ela tem então
30 anos — após a Comunhão, ela ouviu distintamente Jesus dizer-lhe:
« "Dás-me
o teu corpo para a crucifixão? Quero fazer-te participar de toda a minha paixão,
ainda que por caminhos diferentes."
Outro
dia tornou-me Nosso Senhor a pedir o meu corpo para me crucificar, e disse-me
que o corpo Dele foi crucificado com raiva e com furor e Ele, o meu, que mo
crucificava com amor e carinho » .
E Alexandrina continua, na mesma
carta ao Padre Mariano Pinho:
« Disse-me
também que estava comigo e que nunca mais me abandonava, cada vez era maior a
nossa união, e mais íntima a nossa amizade e o nosso amor. Disse-me Nosso Senhor
que as esposas mais queridas são aquelas a quem Ele dá a cruz mais espinhosa e
pesada; “eis uma grande prova do meu amor”. Disse-me também que me entregue toda
a Ele, que abrace a cruz que Ele dá, que os caminhos são pedregosos, e
estreitos, mas que Ele me auxilia e me conduzirá pela mão até ao calvário, lugar
do suplício, que Ele me tem destinado » .
Logo a seguir, na mesma carta, a
Beata Alexandrina demonstra com uma grande humildade, a sua união a Jesus e a
aceitação sem reserva à sua Santíssima vontade. Ouçamo-la:
« Eu
ás vezes digo assim:
"Ó meu querido Jesus, eu quero ser
toda vossa, e só para vós quero viver."
E o meu Jesus diz-me assim:
"Ó minha querida filha, e eu quero
que sejas, toda, toda minha, e que só para mim vivas, e que só a mim ames e que
só a mim procures." »
Por pequenos “toques”, Jesus
preparava a sua “preferida” para a missão que desde a eternidade lhe estava
reservada: os pecadores e as almas, sem esquecer a consagração do mundo ao
Coração Imaculado de Maria.
Fino pedagogo, Jesus trabalha o
coração e a alma da sua vítima, consolando-a, prometendo-lhe a sua presença
contínua e a sua ajuda sem falha. É o que nos demonstra este excerto duma carta
escrita ao Padre Mariano Pinho, a 1 de Novembro de 1934:
« Há
dias dizia-me Nosso Senhor assim:
"Minha filha, minha filha, escuta
o teu Jesus. Estou no íntimo da tua alma e acho-me bem. Não te entristeças com
tudo o que encontras em ti. Sou eu para te unir mais a mim e estreitar-te mais
ao meu coração”.
Perguntei eu ao meu Jesus o que havia
de fazer para o amar muito e Ele disse-me:
“Anda para os meus sacrários
consolar-me, reparar. Não descanses em reparar; dá-me o teu corpo para o
crucificar. Preciso de muitas vítimas para sustentar o braço da minha justiça e
tenho tão poucas, anda substituí-las”.
Por outra vez dizia-me:
"Minha filha, que temes tu nos
braços do teu Jesus? Que podes tu temer no colo do teu esposo?"
Noutra ocasião falou-me assim:
"Ó minha filha, eu estou contigo.
Como eu te amo! Nunca te abandono! Procura-me em cada uma das tuas necessidades!
Se soubesses os desejos que tenho em favorecer-te!"
Nosso Senhor disse-me para eu fazer
um contrato com Ele: eu, ir consolá-lo e amá-lo em todos os sacrários, e Ele
consolar-me-ia de todas as minhas aflições e necessidades. Eu perguntei a Nosso
Senhor: a quem eu vou consolar, ao meu Criador, ao meu amor, ao Rei do Céu e da
terra? E Nosso Senhor disse-me:
"Que tens tu com isso? Escolhi-te
assim. É debaixo da tua grande miséria e dos teus crimes que eu escondo a minha
grandeza, a minha omnipotência, os raios da minha glória. Anda para os meus
sacrários, repara no meu silêncio, na minha humildade e no meu abatimento. Faz
que eu seja amado por todos no meu sacramento de amor, o maior dos meus
sacramentos e o maior milagre da minha sabedoria!
E disse-me para eu dizer a V. Recia.
que queria bem pregada e bem pregada a devoção aos sacrários. Que não eram só os
que não queriam crer na sua existência, no S. S. Sacramento e contra Ele
blasfemavam, mas que eram tantos, tantos os que iam aos templos e lá se
demoravam sem o saudar e nem por um momento pensavam Nele.
"Repara, minha filha, tudo isto e faz
que eu seja amado” » .
Jesus é um Mestre espiritual
incomparável, assim como um enamorado cuja ternura e encanto deslumbram as almas
que Ele quis e desejou escolher. Ouçamos o Mestre espiritual, tal como no-Lo
descreve Alexandrina:
« "Minha
filha, não estou só contigo quando me pedes para te consolar. Sou o teu Mestre.
Feliz de ti se bem aprenderes as minhas lições e bem as praticares. Estabeleci
em ti a minha morada”.
Disse-me que eu era um sacrário, não
construído por mãos humanas, mas por mãos divinas. Habita em mim para me
consolar, mas, que me queria nos seus divinos sacrários para o amar e consolar;
que me aconchegasse muito a Ele e que Lhe pedisse muito pelos pecadores para que
o seu divino sangue não tivesse sido derramado inutilmente por eles ».
Depois, parece-nos ouvir o esposo do
Cântico dos Cânticos:
« Numa ocasião que estava sozinha
entretida com Nosso Senhor, entrou uma pessoa e Ele disse-me:
"Vai para que não dêem por ela, mas
não te distraias. Distrai-te comigo, que estou contigo para te consolar, mas
quero-te comigo em espírito diante dos meus sacrários."
Noutra ocasião, dizia eu assim a Nosso
Senhor:
"Falai, meu Jesus, falai que a vossa
filhinha vos escuta. Anseio por me instruir na vossa escola. E Nosso Senhor
respondeu-me:
"E eu anseio que aprendas todas as
minhas lições. Tenho muito que te ensinar e tu muito que aprender para que, por
ti, venham muitos a aprender as mesmas lições, calcarem as mesmas pisadas e
seguirem-te nos teus caminhos."
"Ó minha filha, não conheces o efeito
da minha presença em tua alma? Sou eu a purificar-te cada vez mais, a embelezar
mais o trono da minha habitação. Sê-me fiel, repara-me nos meus sacrários. Estou
sozinho! Em tantos, tantos tão desprezado, tão ofendido, tão escarnecido!
Consola-me, Tem dó de mim! Faz que eu seja amado. E disse-me mais ainda, que, se
eu O consolasse muito nos seus Sacrários e Lhe desse todo o meu corpo, podia ter
a certeza que O consolava e amava muito, que era uma esposa muito fiel ao Seu
esposo e uma filha muito querida do seu Jesus; e disse-me que precisava de
muitas vítimas para reparar. Eu pedi a Nosso Senhor para que me falasse e Ele
disse-me assim: "Como te não hei-de falar se anseio instruir-te e ensinar-te!
Nunca te deixarei. Sabes quando te deixo? Quando te chamar à minha divina
presença para te levar para o Céu; então, é que deixarei o teu corpo. Sou Senhor
da tua alma e do teu corpo: Dás-mo de boa vontade, para eu o crucificar pelos
pecadores? Por tantos? A vida deles está por um fio e eles em que miserável
estado! Aceitas? Assim me consolarás muito. E os meus sacrários? Nunca será de
mais a minha recomendação. Ama-me muito, faz que eu seja amado! Estou na prisão,
dá-me almas, muitas almas." »
Depois, de novo, como o esposo do
Cântico, meigamente, com muita ternura, Jesus dizia-lhe, como para
contrabalançar os pedidos de sofrimento:
"Minha filha, ó minha amada, eu
estou contigo. Oh! Como eu te amo! São tão fortes as cadeias de amor que me
prendem a ti, que as não posso quebrar, não te posso abandonar. Sê-me fiel,
ama-me muito, deixa o mundo por completo, que não te pertence. Não queiras
aquilo que não é teu. O mundo a quem deves amar, servir e prestar todas as
homenagens sou eu, nos meus sacrários”.
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