Alexandrina Maria da Costa

SENTIMENTOS DA ALMA

JANEIRO 1954

1º de Janeiro de 1954 – Primeira Sexta-feira

Perdi o meu maior tesouro. Perdi a Jesus, perdi a Mãezinha. Parece, sinto como se Eles morressem para mim. Não posso pensar na triste, na dolorosíssima separação de sexta-feira. Triste mortório, mas é tal a diferença como da terra ao Céu. Custou mais, infinitamente mais, a separação de Jesus e da Mãezinha, este sentimento como se Eles morressem para mim, do que quando perdemos e nos separamos dos nossos entes queridos.

Ai, meu Deus, ai, meu Deus, só ao Céu é dado compreender esta dor e àqueles que a sentem. Apenas levanto um bocadinho do véu e não consigo mais nada. Foi tal a dor que me pareceu ficar sem coração, não sei se desfeito pela dor, se Jesus e a Mãezinha mo levaram. O que sei é que ficou em mim um vazio tão grande que só o Céu mo podia encher. E depois o sofrimento de cada dia e cada noite resultado de tudo isto. Chorei muitas vezes e muitas lágrimas. A dor levava-me a levantar a voz, mas logo me vencia e chorava em silêncio. Que as minhas lágrimas sejam actos de amor para Vós, Jesus e Mãezinha! Ai de mim! Perdi os meus Amores! Mas logo a confiança obrigava o coração a falar. Creio, creio que não os perdi. Todo o meu martírio reverta em favor das almas. Sou a Vossa vítima. Creio, creio, confio que não estou só. Ai quanto custa dizer: Creio! Sem crer; confio! Sem confiar.

Neste momento, a minha alma sangra de dor por não ser capaz de dizer como foi a minha separação e a ter necessidade de o dizer. Perder a Jesus e a Mãezinha foi perder o Céu. Todo o meu ser se retalha e, no meio dela, vou dizendo sempre: creio, creio, meu Deus, eu creio! Nestes dias tão dolorosos, de tão grande martírio para o corpo e de tanta angústia para a alma, ainda veio mais um tormento para o meu pobre coração. Várias cartas me chegaram às mãos a dizerem-me que o senhor Bispo de Aveiro tinha proibido a vinda aqui dos sacerdotes. Punhais tão dolorosos! A minha alma tinha a visão da consequência desta ordem. Tanta humilhação! Se eu pudesse reparar tanto escândalo que se dá! Tantas más interpretações por causa disto! A minha oferta de vítima não cessa diante do Senhor. Por Vosso amor, tudo! Faça-se a Vossa vontade! O meu túmulo, o meu túmulo, a minha arte de cavador vai continuando. Cobri-me eu mesma com a terra do meu sepulcro. Fui eu que me cobri, fui eu que desapareci, que me enterrei. Estou tão funda, tão funda!... Parece que toda a terra da humanidade me cobre e os suores da alma vão continuando assim como a eternidade e a inutilidade. Não conta, não anda a eternidade. Que pavorosa ela é! Se Jesus não velasse, só ela me tirava a vida. Tanto sofrer para tanta inutilidade! Uma vida de tanta dor para nada ter que oferecer a Jesus. Estou de mãos vazias. As minhas ânsias tão infinitas, tão infinitas não as posso fazer compreender. Quero o mundo, quero o mundo dentro do meu coração. Quero todos os corações, quero todas as almas, quero levá-las com o meu sangue. Quero amar a Jesus pelo mundo inteiro. Queria morrer, a cada momento, até ao fim dos séculos e a cada momento dar o sangue até à última gota, para que nenhuma alma se perdesse, nem nenhum coração deixasse de amar a Jesus. Queria, sim, dar todo o meu sangue e a vida, a cada momento, até ao fim dos séculos para evitar um só pecado.

Ai, ai, não posso consentir que Jesus seja ofendido! Eu não tive horto. Vou dizer o melhor que puder o que senti.

Sobre o solo do horto esvoaçava uma pomba. Tinha sempre no seu biquito uma gota que deixava cair sobre a terra e se transformava em orvalho fecundador. Uma gota caía, logo outra aparecia. Este orvalho era celeste. Era o maná que alimentava, que dava a vida, dava luz e sabedoria. Uma vida no ar, outra vida na terra. A minha alma tornava-se sábia, compreendia tudo isto, tudo o que era do Céu. A minha dor, a minha dor humana vivia-a, sentia-a o mais dolorosa que se pode imaginar.

No calvário de hoje, a mesma pomba continuava a voar, a deixar cair as mesmas gotas que se transformavam em orvalho, orvalho celeste e a dar a mesma luz e vida de sabedoria. Eu cá em baixo levava a cruz da minha vida dum martírio indizível. Não vi Jesus, não o senti. Não soube que Ele expirasse. Veio alguém que juntou ao meu coração, à minha vida terrestre a vida divina. Essa mesma vida comunicava-se a mim como quem injecta. Desapareceu a minha vida terrena para viver a outra. O coração e a alma fortaleceram-se mais. A casa do meu interior tinha mais luz. Diz-me Jesus nesta altura:

— “Sou o Senhor do mundo, o Senhor da paz, o Senhor da fé e da confiança. Crê, crê, vive da fé. É colóquio de fé.”

Creio, creio, Jesus. A gota de sangue Jesus não disse que ma ia dar; senti o choque e o meu coração ficou unido ao outro Coração, a chupar dele como a criancinha no seio de sua mãe. Novas palavras de Jesus.

— “Coragem! Vive para as almas. Recebe as carícias de minha Bendita Mãe. Sou Eu o portador delas, já que amanhã Ela não te vem falar.”

— Obrigada, Jesus. Dizei à Mãezinha o meu muito obrigada.

Não disse tudo da minha separação. Que saudade das carícias da Mãezinha e saudade da Santíssima Trindade. Toda Ela me abraçava com a Mãezinha, e o Divino Espírito Santo em forma de pomba irradiou-me toda com a Sua luz, que iluminou todo o meu ser; prendia-me a Ele com fitas de várias cores que d’Ele pendiam. O que foi! Quanto custou! Não digo nada. Fico na minha dor e na minha eterna saudade.

8 de Janeiro de 1954 – Sexta-feira

Continuo a sentir a perda de Jesus e da Mãezinha. Eles morreram para mim. Triste, tremenda separação. Não tenho palavras, a minha ignorância não deixa exprimir a dor desta separação. Perder a Deus, perder a Mãezinha, é perder tudo, é perder tudo. O meu coração e a minha alma estão numa angústia, estão como se estivessem sozinhos num universo de trevas, num mundo de perda eterna. Nem na terra, nem no Céu há conforto para eles, ou antes, nem existe a terra, nem existe o Céu.

Meu Deus, eu creio, creio, meu Deus. Assim o vou repetindo muitas vezes, sem ter apoio, luz e conforto de ninguém. A minha eternidade existe atrás de mim, em mim e à frente de mim. Tudo é eternidade desesperadora, revoltosa, odiosa contra tudo, contra Deus. Ai, a eternidade, ai, o que é a eternidade!... E a inutilidade que tudo me rouba?! A minha vida de tantos espinhos, de tantos punhais, de tanta contradição e humilhação é toda para ela.

Oh! Como me vejo de mãos vazias! Nenhum do meu sofrimento, nenhum do meu martírio aparece à luz do dia. Mas ele existe dia?! Há sol e estrelas no firmamento?! O que é isto, meu Deus, se sinto que não há Céu nem terra! Mas existe a eternidade? Eu vivo a eternidade. Vivo-a por Vosso amor e por amor às almas.

Não pode ser vista a profundeza do meu túmulo. Em que abismo estou! Ficam na superfície apenas a parede do meu sepulcro, mas eu desapareci, escondi-me. Fui cavando, cavando. Estou tão funda! Parece que tenho mundos, mundos sobre mim. Despi-me por mim de todas as coisas, por mim me enterrei, por mim mesma me fiz desaparecer. Os suores da alma não cessam com a canseira da escavação. É como se cavasse incessantemente sem tirar do meu punho o instrumento da escavação, mas a cavadela leva mais de um século. Por tudo seja bendito o Senhor!

No primeiro sábado não tive a visita da Mãezinha. Senti por Ela saudades de morte saudades de morte. Apesar  da sagrada Comunhão desse dia ser mais íntima, mais confortante, ai de mim, se Jesus não velasse! 

O meu horto não é aquele horto de outrora. A minha vida humana a em baixo sempre fugitiva sem pisar terra alguma dele. Lá em cima, a grande altura, sempre a mesma pomba a deixar cair do seu biquito muitas gotinhas que se espalham em orvalho, mas ela não se satisfaz só com isso; vai levar aos corações essa gota e com o mesmo biquito retoca-os, faz neles o ninho. Vai também às inteligências focá-las, enchê-las de luz. Como é grande a vida e o trabalho dessa pomba!... Assim esvoaçou sobre o Horto e assim hoje esvoaçou sobre o Calvário.

Eu tive o Santo Sacrifício da Missa; com a minha fé abandonada à Mãezinha pedi-Lhe que me levasse e me fosse imolar com Jesus e me desse todos os seus sentimentos. Senti em mim como que um desespero na fugida do Calvário. A minha vida morta era a vida humana, mas aquela pomba era e dava a vida do Céu. Sem sentir que Jesus morreu, senti que Ele chegou junto de mim, sentou-se e como o bom Pastor chamou a si a Sua ovelhinha:

— “Vem, minha filha, sou o teu Jesus. Descansa aqui.”

Sentei-me junto d’Ele; nos Seus joelhos coloquei a minha cabeça, sobre a minha e o meu ombro deixou Ele cair o Seu divino braço. A minha alma foi recebendo conforto.

— “Sou o teu Jesus, sou o teu amor. Confia, confia! Este colóquio doloroso, mas de fé, continua a salvar almas aos milhões, aos milhões.”

— Creio, creio, Jesus, mas custa tanto, tanto a crer! Custa tanto, tanto, a confiar! Valei-me! Sem Vós não posso! Tudo por Vosso amor e pelas almas!

Jesus tomou-me para o Seu regaço, uniu os nossos corações, fez passar a gota do Seu Divino Sangue.

— “Dou-te, esposa querida, com toda a fortaleza, a gota do meu Sangue. Nova vida para tu dares vida. Coragem! Coragem! Crê! Nova vida de fé! Confia! O Céu não te abandona! Jesus está contigo. Vai salvar almas, vai para a tua cruz!”

Obrigada, obrigada, Jesus.

15 de Janeiro de 1954 – Sexta-feira

Não sei se a minha vida é o pôr-do-sol, o cair da noite, ou noite por completo. Eu brado: o meu coração e a minha alma no meio desta vida sem vida, de noite sem estrelas, nestas trevas densas e apavoradoras bradam, bradam ao Céu. O meu estado é tal que por vezes parece que não sei se vivo, se estou na terra, ou onde estou.

— Creio, Jesus, creio no Vosso amor, creio nas Vossas palavras, creio nas Vossa promessas. Creio que não me deixais sozinha. Que eu não viva, não importa, que eu morra para mim e para tudo, é o meu anseio, mas que Vós vivais em mim e em todas as minhas coisas, não Vos dispenso. Pobre alma perdida no bosque, sem que seja ouvido o seu brado, pobre alma a clamar ao Céu, duvidosa de que há uma eternidade e sempre a viver essa mesma eternidade, de cuja existência duvida. Creio, creio, Jesus. Este meu “creio” de alma e coração não terá fim. Creio em Vós, creio nas Vossas promessas, creio em tudo. Ai, quanto sofre a minha pobre alma! Ó Jesus, tudo quanto ela sofra é por Vós. Eu caminho; falha-me aos pés a terra que calco. Caio e não posso mais levantar-me.

Estou no mar tempestuoso, não cesso de lutar com as ondas. Sinto-me cansada, sinto-me desfalecida com tanto lutar. Quero apanhar a areia ou qualquer coisa que me segure deveras e não encontro. Tudo me falha. Deixo-me ficar à mercê das ondas. Sofro tanto, tanto por não saber exprimir os meus sofrimentos e a ter infinita necessidade de os exprimir. A minha ignorância não me deixa. Tenho de ficar nela, nesta dor infinita, por ser impossível dizer quanto se sofre. Também sinto cansaço indizível e incompreensível cansaço da fome, da ansiedade de possuir o mundo. Não cesso um momento. Vou de encontro a todas as barreiras que fecham a humanidade a apanhar tudo, a chupar tudo, todos os corações, todas as almas, todo o suco que posso encontrar para dar a Jesus, para Ele não ter um momento de tristeza nem de dor.

Meu Deus, meu Deus, que ansiedade infinita! Querer dar tudo a Jesus e nada dar, querer apanhar todas as almas e nenhuma prender, querer oferecer todos os sofrimentos e não os possuir para Lhe dar.

Ó inutilidade, como és traiçoeira! O inutilidade que roubas e és assassina! Tudo isto se passa mergulhado na eternidade! Vivo a eternidade em tudo e sempre. É na eternidade que está o meu sepulcro. Este na superfície da terra e eu sempre sob mundos e mundos. Os suores da alma, a fadiga da alma; fiz-me desaparecer por mim, despi-me de tudo, parece que até descarnei as minhas carnes, mas cá vou indo na minha canseira incessante de cavador canseiroso.

Meu Deus, meu Deus, onde estou eu?… Na minha eternidade, amaldiçoando a Deus, numa revolta contínua. Ai que saudades eu tenho de Jesus e da Mãezinha!... Que dor tão profunda a da Sua perda! Não tenho horto nem calvário. Perdi tudo. Sobre o horto vai esvoaçando sempre a pombinha, vai dando a sua vida e deixando cair as gotas do seu orvalho. É vida do Céu, é orvalho e maná celeste. Sempre nestes sofrimentos eu vivo as horas do calvário e sofro mais por não viver a vida dele, os frutos dele. Perdi tudo, tudo. Hoje, na viagem dessa montanha, a pombinha esvoaçava, batia as asas, o orvalho caía e ela no meu peito veio fazer seu ninho. Ela trabalhava. Deixei-a trabalhar, mas sempre numa dor, tristeza, angústia pavorosa.

Bateram três horas, e logo veio Jesus em tamanho natural. Mostrou-me o Seu Divino Coração cercado de raios luminosos, mais brilhantes do que o sol. Toda a casa da minha alma se iluminou. Estes raios aqueceram, penetraram todo o meu ser, e Jesus logo desapareceu. Eu fiquei como uma bola com a qual os raios brincavam e jogavam para um e outro lado. Principiei com esta perda de Jesus a fazer logo repetidos actos de fé: creio,Jesus, creio que sois Vós, creio que estais aqui.

— “Minha filha, um universo de graça, um universo de luz, um universo de paz e de amor estão no teu coração. Colóquio de fé. Vive da fé. Prende as almas, prende as almas com estas cadeias de dor e de amor.”

Fiquei novamente a viver da fé.

— Creio, creio, creio!

É um creio que nunca mais acaba.

— Confio, Jesus, confio.

— “Recebe a gota do meu Divino Sangue, a vida de que tu vives. Mundo de vida divina para a viveres, para a comunicares aos corações e às almas.”

Um fogo se abrasou, e Jesus desapareceu tão rápido, sem que eu Lhe pudesse dizer o meu adeus, o meu eterno obrigada.

— Creio, creio, creio, Jesus! Amo-Vos neste abandono e quase completa incerteza. Creio, creio!

22 de Janeiro de 1954 – Sexta-feira

Estreito ao meu coração, sinto imensa necessidade de a ele estreitar uma coisa que perdi. Quantos abraços íntimos, o mais profundo que se pode imaginar, eu dou em mim em muitas horas da noite e do dia. Que tristes e saudosos são estes abraços interiores! Abraçar a quem? A alguém que me parece ter perdido. A Jesus e à Mãezinha. Ai, meu Deus, quanto eu sofro! Como aguentar a saudade desta perda, como aguentar a saudade destes tesouros, destas personagens divinas, que não servi como devia servir, que não amei como devia amar, que não me entreguei, não sofri por Eles como devia entregar e sofrer.

— Ó Jesus, ó Mãezinha, só Vós sabeis, só vós podeis avaliar a minha tristeza, a minha saudade, a minha dor. Eu quero-Vos, eu quero-Vos, velai por mim, não me abandoneis, vinde em meu socorro, não posso viver neste exílio sem Vós. Senhor, Senhor, perde-se o meu brado, o Céu tem sobre ele nuvens sobre nuvens, cadeias sobre cadeias, não chega lá o meu brado nem meus suspiros. A morte e a noite da minha alma são para mim horrores e pavores. Interiormente, os meus braços ficam assemelhados à cruz. Deixo-me crucificar, quero sempre a vontade santíssima do Senhor. Sou a Vossa vítima, sou e serei sempre a Vossa vítima. O meu coração anda como louco numa fome infinita, a correr o mundo, a romper montanhas, a atravessar mares, à busca de corações e de almas. Não posso deixar um só tresmalhado, não posso consentir que uma só alma se perca.

Que fadiga, Senhor! Como isto me consome! Seja tudo por Vosso amor. Ah! Se eu soubesse falar deste assunto, nunca mais deixaria de desfolhar as páginas do tal livro. Sinto uma humilhação, por vezes quase mortal, ao ver-me rodeada de tanta gente. Chego a ter medo de mim com a profundeza da minha miséria.

Pobrezinhos, os que vindes ver! Só coração sem vergonha nem temor fura, voa por toda a parte, quer saciar-se de ânsias tão infinitas, quer corações, quer almas, tudo, tudo, sem nada perder.

Que fazer, Senhor? Só o abandono e deixar-me levar por Vós e só em Vós confiar e esperar. O meu sepulcro mantém-se na superfície. Só eu na minha canseira, nos meus suores de alma, desci tanto, tanto, tanto desapareci, não sei onde vou, não sei falar de tal profundeza. Haverá mundo, haverá terra ou Céu? Eternidade a há, vivo-a. A inutilidade sinto-a. São estas duas coisas que me fazem de tudo miserável. Nem dor, nem amor, nem fé, nem confiança. De tudo e sempre sou roubada. Ai, a eternidade, ai, a eternidade desesperadora.

Sobre o meu horto e o meu calvário não faltou a voar a branca pombinha. O orvalho espalhou-o das gotas que produz o seu biquinho. Mais uma vez em mim o ninhinho foi feito. Mas ah! Eu não posso esquecer, nunca mais poderei esquecer os olhares penetrantes, perscrutadores que penetravam e perscrutavam toda a terra, todo o ser. Estes olhares viam a inutilidade do Horto e do Calvário, a perda do Sangue redentor. Eram olhares divinos e tais olhares produziram em indizível tormento, dor verdadeiramente infinita. Não podia mais resistir; pedi conforto ao Céu. Jesus veio, fez luz na sala do meu peito e retirou-se; a Sua vinda foi disfarçada. Animada por aquela luz, fui repetindo: creio, creio, Jesus, diz-me a minha fé que estais comigo. Louca por encontrar o meu Amado perdido, fui caminhando sempre, chamando: Jesus, Jesus, onde estais, Jesus?

Encontrei-me num bosque, entre o qual encontrei aquele que procurava. Tudo eram árvores espinhosas e sabes de espinhos penetradores. Todo o meu ser era sangue e em sangue encontrei todo o ser de Jesus. Ele a caminhar à minha frente dizia-me:

— “Estou aqui, estou aqui, vem cá, minha filha, estou aqui.”

Como num excesso de cansaço, sentou-se; as varas espinhosas atravessavam-no todo, o sangue escorria.

— “O mundo, os pecadores perseguem-Me, não escutam a Minha voz. Olha como Me ferem! Ai deles, se não atendem ao Meu chamamento, ai deles, se não se convertem! Salva-os, são teus; é tua a dor, é meu o amor.”

Esqueci-me de mim, dos espinhos que me feriam; com muito cuidado principiei a tirar todas as varas deles que feriam e atravessavam a Jesus. Quando O vi sem espinhos, vi-me sem Ele, tinha-me fugido. Continuei à sua procura, repetindo: creio, creio, Jesus. Veio então Ele ao meu encontro:

— “Colóquio de fé, colóquio de dor. Coragem, minha filha, o mundo é teu, é para o salvares. Consola-me e recebe a gota do meu Sangue Divino.”

Jesus uniu os nossos corações, tomou uma veiazinha do d’Ele, outra do meu, fez delas como que um enxerto, a gotinha do Sangue passou. A minha alma teve de sorrir a esta operação.

— “Coragem, minha filha, escora firme da justiça de meu Pai. Afasta-a, afasta-a. Recebe o meu conforto e o da tua Mãezinha celeste. Serei, por mais vezes, o portador dela.”

— Obrigada, Jesus; dizei-lhe por mim o meu eterno obrigada. Lembro-Vos os meus pedidos e fico a repetir: creio, creio, creio!

   

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