Alexandrina Maria da Costa

SENTIMENTOS DA ALMA

NOVEMBRO 1953

6 de Novembro de 1953 – Sexta-feira

A minha vida, a cruz da minha vida, a minha vida, o meu tormento em sangue! Sinto não poder viver assim. Vou ao Calvário, vou ao sacrário, vou ao Coração Divino de Jesus, a toda a Santíssima Trindade e à Mãezinha querida buscar conforto sem o encontrar, sem o ver nem sentir, mas sei que é do Céu que ele me vem. O meu coração brada constantemente, mas é um brado sempre dorido, todo em sangue. Na terra não encontro apoio, não sei quem me há-de valer. Para o Céu sei a quem hei-de dirigir-me e sei que é de lá que me vem a força da cruz. Fala-se muito da dor, prega-se até maravilhosamente da dor, mas compreendê-la, senti-la, vivê-la, ai, tão pouco há, meu Jesus, mesmo tão pouco! Valei-me, valei-me, ó Senhor do Céu e da terra; só Vós com a querida Mãezinha podeis valer-me; só Vós e mais ninguém sabeis compreender a minha dor, sabeis o fim da minha vida, que é por Vós, tudo por Vosso amor e amor das almas. Eu não quero ver-Vos triste, meu Jesus, queria consolar-Vos, perder-me toda, toda, no Vosso amor e dar-Vos as almas, todas as almas. Ó meu Deus, ó meu Deus, elas custam tanto a salvar! Perdoai-me o meu desabafo, valei-me, que eu parece que não posso mais. Tudo são traições, tudo são punhais e espinhos, é uma vida de incertezas, de inquietações. Eu não sei para onde fugir. Se fujo para o Céu, para o sacrário, para o Vosso Divino Coração, para o da Mãezinha querida, encontro tudo fechado. Vou para estes lugares com os olhos da fé; a cegueira nada me deixa ver, a inutilidade tudo me rouba e a minha eternidade não passa; estou presa, algemada a ela, e a minha língua de fogo maldita vai continuando a sua eternidade de maldição. Ó que horror, meu Deus, ó que horror! O meu Horto de ontem, o meu Calvário de hoje foi vivido num sofrimento horroroso, indizível, cruel. Eu fui a mesma massa do Horto e a mesma do Calvário. Horto de sangue, Calvário de sangue. Horto surdo e mudo, Calvário surdo e mudo. A dor e a amargura eram tão profundas que a cada momento parecia dar a vida. Não sei se este sofrimento veio só de Deus ou se veio também das criaturas, Senhor, que a  Vossa santíssima vontade se cumpra em mim como quereis, contanto que eu Vos ame, console e Vos dê o mundo das almas. Assim o repeti no cimo da montanha, com os olhos da almas e olhos da fé fitos em Jesus crucificado e a agonizar com Ele.

As humilhações tiravam-me a vida. Sentir-me rodeada de gente quase me dava a morte. Então neste momento senti como se alguém viesse e me arrebatasse o coração. Fiquei mais alta do que a terra e mais baixa que o Céu. Já não ligava ao que se passava à minha volta. Foi sem dúvida Jesus que veio amparar-me e dar-me o Seu conforto. Ele expirou e eu fiquei neste arrebatamento sem pertencer a Deus, sem pertencer à terra. Ele ressuscitado veio mais fortemente com a Sua vida a fazer-me viver e falou-me assim:

― “Cá está Jesus, o Jesus das almas, o Jesus dos pecadores. Cá está Jesus. Vem a este calvário, vem para dentro em breve fingir deixar-te. Tantos, tantos colóquios têm sido para os pecadores! Tantos ensinamentos, tanta prova do amor de Jesus! Vinde a Mim, meus filhos. É o meu Divino Coração que vos chama. É o meu coração amoroso que vos quer. Escolhi esta vítima vitoriosa, esta vítima triunfadora para a vossa salvação. Calvário, calvário, calvário ditoso das maravilhas do Senhor. Calvário de luz, calvário de ensinamentos, calvário, calvário, doloroso aviso!... Vinde a Mim, meus filhos, vinde depressa. Jesus vos chama, Jesus vos quer. Arrepiai caminho. Vinde depressa reparar a justiça do meu Pai. Alerta! Depressa! É urgente! Chama-vos Jesus. Arrepiai caminho! Convertei-vos! Ouvi a voz do vosso Deus! O meu Divino Coração está louco, louco, louco de dor. Sofre, porque ama; ama, porque sofre. A dor, a dor, filhos meus, a dor é pungente para o meu Divino Coração. O amor é louco, o amor é louco. Arrepiai caminho, arrepiai caminho! Ouvi a voz terna e doce de Jesus. Ouvi a voz dolorida, a voz dorida, dorida do amantíssimo Jesus. Morri por vós. Morri por todos vós, filhos meus. Quero salvar-vos, quero salvar-vos e para isso escolhi vítimas, algumas vítimas, mas há tão poucas que queiram sofrer. Há tão poucas que perseverem até ao fim. Escolhi a vítima deste calvário, a vítima de Portugal, a vítima do mundo inteiro”.

 

Consoladora, consoladora dos tristes,
Consoladora, consoladora dos tristes
Terna Mãe, terna Mãe, terna Mãe dos pecadores,
dos pecadores, dos pecadores,
Rogai, rogai, rogai por mim a Jesus
Rogai, rogai, rogai por mim a Jesus
Pelas vossas, pelas vossas, pelas vossas sete dores, sete dores.

 

― “Minha filha, minha querida filha, os teus últimos colóquios, os teus últimos colóquios falados vão deixa saudades, vão deixar remorsos a muitas, muitas almas. Muitas almas hão-de sentir grande tormento dos teus últimos colóquios, dos colóquios das almas”.

― Ai, meu Jesus, quem sente a separação sou eu, quem sente a dor sou eu, Jesus, mas é por Vosso amor. Não tenho outro fim, Jesus. São as almas, são as almas, são as almas, meu Amor, são as almas, são as almas a causa do meu sofrer. A Vossa despedida, Jesus, há-de ser para mim, o meu coração adivinha, a causa de muito sofrer, de maior martírio. Bendito sejais!

 

Seja feita a Tua vontade
Seja feita a Tua vontade
Assim na terra, assim na terra
Como no céu.

Seja feita, Jesus, seja feita, meu Amor
Seja feita Tua vontade
Seja feita Tua vontade,
Jesus meu Pai, Jesus meu Pai,
Jesus, Jesus meu Pai.

Meu doce Amor, meu doce Amor, meu doce Amor,
Meu doce Amor, meu doce Amor, amor, amor.

 

― “Vais, minha filha, receber a gota do meu Divino Sangue. Ouve os choques, os choques bem fundos dos nossos corações. Estão os dois bem unidos e ficam sempre unidos. Confia, minha filha, confia, minha filha. Ficam os dois bem unidos, porque sempre unidos. Passou a gota do Sangue divino. O sangue do Redentor já corre nas veias desta vítima, da cópia mais fiel da vida de Jesus na terra. Passou o sangue divino, o alimento que te dá a vida. Coragem, coragem, coragem, minha filha. Fala às almas, fala às almas. Coragem, coragem, coragem, minha filha. Fala às almas, fala às almas. É esta a tua missão. É a missão mais sublime. É a missão mais alta da vítima da terra. Fala-lhes e dentro em breve e muito em breve, minha filha, a tua missão continua no paraíso, mas livre de dor, de todo o martírio. Aqui na terra, dor e amor. No Paraíso, sim, no Paraíso, gozo e amor infindo, gozo e prazer infindo”.

 

Eu amo-te, meu Deus
Eu amo-te, meu Deus
Eu amo-te, Senhor
E só me sinto bem
E só me sinto bem
Na tua paz, na tua paz.

Na tua paz, no teu amor.
No teu amor, no teu amor, no teu amor.

Eu amo-te, Jesus
Eu amo-te na cruz
Eu amo-te, eu amo-te
Eu amo-te na cruz, na cruz
Amo-te, amo-te na cruz, na cruz
Jesus é meu, eu sou de Jesus
Só tenho alegria, só tenho alegria
Fitando o céu, fitando o céu, fitando o céu
Fitando a cruz, fitando a cruz.

Eu amo-te, Jesus, eu amo-te, Jesus
Eu amo-te, Jesus, eu amo-te, Jesus
Eu amo-te, Jesus, eu amo-te, eu amo-te no sacrário
Eu amo-te no sacrário, eu amo-te na cruz, na cruz, na cruz, Jesus.

 

― “Fica na cruz, fica na cruz! Abraça a cruz! Fica na cruz! Abraça a cruz por amor dos pecadores. Convida a vir a Mim os pecadores. Convida-os sem demora a afastar de si a justiça do Senhor. Convida-os, convida-os. Fala-lhes, fala-lhes da tua cruz. Jesus o pede, Jesus o quer. Tem coragem! Tem coragem! Avante, avante!”

― Ó Jesus, ó Jesus, toa a coragem me falta. Não vejo caminho para onde fugir. Não vejo onde me esconder. Tudo me foge. Foge-me o Vosso amor. Foge-me o amparo da terra, foge o amparo do Céu. Tende piedade de mim, meu Jesus, tende piedade de mim. Lembrai-vos, meu Jesus, lembrai-vos de todas as minhas intenções. Já sabeis, já sabeis, já, meu Amor, desde há muito tempo, por onde principio. Lembrai-vos, Senhor, da humanidade inteira, da humanidade inteira. Todos são Vossos filhos. Sou a Vossa vítima, sou a Vossa vítima. Sou a Vossa vítima, sou a Vossa vítima, meu Jesus.

7 de Novembro de 1953 – Primeiro Sábado

 

NB – Este foi o primeiro colóquio gravado.

 

Passei uma noite de vigília. Sofri muito. Não podia rezar. Só de longe a longe uma jaculatória podia dizer, mas estive sempre unida a Jesus e sempre era a Sua vítima. O meu coração estava em ânsias de dor e de amor. A dor era para reparar a Jesus, mas Ele exigia de mim uma dor infinita, que vinha a ser d’Ele e só d’Ele. As ânsias de amar infinitas eram. Eu não podia conter-me. Queria que o meu coração se derretesse em amor. Queria ver no mundo o incêndio de todas as almas. Só vendo todos os corações a amarem a Jesus, o meu coração se satisfazia. Foi nestas ânsias, neste sofrimento que eu me preparei para receber Jesus e que Ele deu entrada no meu coração. Tudo eram trevas e um fardo insuportável; mas não levou muito tempo que as trevas desaparecessem, todo o meu coração se iluminasse e o fardo pesadíssimo desapareceu leve como uma leve pena, e ouvi a voz de Jesus que falava assim:

― “Está bem triste, infinitamente triste o meu Divino coração. Estou triste, infinitamente triste, minha filha. Os pecadores, os pecadores não escutam a minha voz. Os sacerdotes, os sacerdotes, os sacerdotes, aqueles que deviam ser santos no seio do mundo, o sal da terra, o que são, o que são, o que eles são, em grande número?! O escândalo, a perdição de tantas, tantas almas. Deixa, minha filha, deixa, florinha eucarística, deixa, mimo do Paraíso, que o teu Jesus, que o teu Esposo tenha contigo este desabafo. Não posso, não convém tê-lo sempre. São casos tão delicados!... É um ponto de tão grande importância, mas tenho que desabafar e, ao mesmo tempo que desabafo, chamo-os, convido-os a uma vida nova, a uma vida digna de Mim. Onde está, onde está a sua jura? Eu quero, eu quero nos sacerdotes mais pureza e mais pobreza, mais caridade e mais amor. Eu quero, eu quero nos sacerdotes maior desprendimento, maior desprendimento, mais escondimento, mais vida interior. Minha filha, minha querida filha, não volto a ter contigo outro desabafo neste sentido. Sofre, sofre. Sê vítima de todos, de todos os pecadores, mas sobretudo, sobretudo das almas dos sacerdotes, para que não se percam e não sejam instrumentos de muitas almas se perderem.

Diz, diz ao teu Paizinho que Jesus do seu coração, Jesus da sua vida o ama louca, loucamente. Diz-lhe que a reparação que lhe pedi foi para o mesmo fim desta minha queixa, a alma pura, a alma santa, o sacerdote digno e amante a reparar por tantos infelizes, por tantos leprosos a desfazerem-se na lepra do pecado, a precipitarem-se no inferno. Diz-lhe, diz-lhe que o amo com a maior loucura do meu amor. Diz-lhe que confie, que confie, que confie nestas minhas palavras. Que elas fiquem bem gravadas no seu coração tão sofredor. Ele é meu e Eu sou dele. Foi escolhido por Mim para luz e guia das almas eleitas, foi escolhido por Mim para ser contado entre o número dos meus santos.

Diz, diz ao teu médico que o meu Divino coração se alegrou nele, na sua defesa, na sua firmeza pela minha divina causa. Diz-lhe que quanto mais humilhado mais exaltado, quanta mais dor mais amor do meu Divino coração, mais e mais protecção, mais e mais graças celestes, mais e mais bênçãos divinas para ele e para o seu jardim florido. Dá-lhe, dá-lhe a abundância do meu amor, toda a abundância do amor.

Vem, minha bendita Mãe, vem Mãe do Santíssimo Rosário, vem enleá-lo nas mãos da nossa filhinha; vem acalentá-la, acariciá-la e dar-lhe o teu conforto celeste”.

― Ó Mãezinha, ó Mãezinha, as minhas mãos estão presas com o Vosso Rosário, mas é doce esta prisão. As Vossa carícias, o Vosso conforto deu-me nova vida. Obrigada, obrigada, Mãezinha.

― “Minha filha, esposa do meu Jesus, venho hoje e só mais uma vez virei com a minha presença, com a minha santíssima presença dar-te o conforto e pedir-te graças, mas prometo, minha filha, conta comigo, sempre comigo, em toda a tua vida velarei por ti, velarei por ti, mesmo sem teres os sentimentos da minha presença e da minha protecção. Prometo assistir na hora derradeira da tua passagem para o Paraíso. Virei buscar-te com os meus santos e anjos.

Fala às almas. Fala às almas. Eu quero, porque Jesus o quer. Fala-lhes do meu sacrário. Faz sempre o que tens feito. Convida-as a rezarem o meu terço. Dá, minha filha, dá a Jesus toda a reparação, tudo quanto Ele te pedir”.

― Ó Mãezinha, ó Mãezinha, farei tudo com a Vossa ajuda e a Vossa protecção. Já que me desprendestes as mãos, desenleando o Vosso rosário, permiti-me que Vos dê um saudoso abraço, um saudoso abraço, um saudoso abraço. Mãezinha, obrigada pelas Vossa carícias.

― “Coragem, coragem, minha filha. É Jesus a pedir-te coragem, coragem. Não é hoje a despedida. No primeiro sábado de Dezembro, no derradeiro colóquio, dir-te-ei o último das sextas-feiras. Dir-te-ei o dia em que terminam não os teus colóquios, mas os das almas. Ficam até ao fim, até ao fim da tua vida para ti, mas colóquios de fé, colóquios de fé, colóquios de fé e pouco mais, esposa minha. Dor e sangue, dor e sangue são as moedas, são as moedas das almas”.

― Ó Jesus, ó Mãezinha, quero abraçar os Vossos amantíssimos Corações. Quero que este abraço seja eterno, embora eu não sinta, sim, meus queridos amores, quero ser a Vossa vítima. Sim, meus queridos amores, quero que seja eterno este abraço. Lembro-Vos todos quantos me são queridos, todos os que às minhas pobres orações e sofrimentos se recomendam ou querem recomendar; por fim, a humanidade inteira. Sempre, Jesus, sempre Vos lembro a humanidade inteira.

― “Vai em paz, vai em paz. Fica na cruz. Distribui o nosso amor, as nossas bênçãos e graças com a maior abundância por todos os que te são queridos, por todos os que amas, por todos os que se abeiram de ti, e espalha-as como aragem que corre pela humanidade inteira”.

― Obrigada, meu Jesus, obrigada, Mãezinha.

13 de Novembro de 1953 – Sexta-feira

 

NB – Segundo colóquio gravado.

 

As amarguras da minha alma não as sei exprimir; elas passam ocultas a toda a gente e até eu, pobre de mim, sei senti-las e não dizê-las. Que inigualável ignorância! Tenho o mundo borcado sobre mim e toda a minha dor e sofrimento ali se retêm e ficam escondidos. O Senhor seja bendito; quero louvá-Lo e bendizê-Lo em todas as coisas. Mas custa tanto a dor! Custa tanto sofrer sem um guia, sem um amparo! Senhor, Senhor, que pavoroso abandono, que pavorosas trevas e inutilidade! E a eternidade, meu Deus, e a eternidade sempre a existir, sempre a existir sem nunca, nunca passar. E o pior ainda é sempre uma eternidade de ódio, revolta, vingança e blasfemação. Ai, meu Deus, ai, meu Deus, que há-de ser de mim! Recebo, meu Jesus, e quantas vezes tenho de fazer actos, muitos actos de fé, depois de O ter recebido. Custa tanto, custa tanto assim viver sem viver, sofrer amargamente sem nada ter que dar ao Senhor, viver a eternidade e ter que fazer actos de fé que a eternidade existe! Que horror! Não sei o que tem a minha alma. Ela rompe repetidas vezes como que em gritos acompanhada de dor infinita. Ela grita, ela chora de dor e quer esconder-se, refugiar-se e não tem onde. Passa bosques, mar e terra sem encontrar refúgio. Meu Deus, meu Deus, o céu e a terra contra mim; parece que já não terei para o meu viver a misericórdia e o perdão do Senhor. Todo o  meu tempo vivido é inútil, na minha eternidade duradoura, sem princípio e sem fim. Ontem, no Horto, não sei como, estando eu sempre fugidia e esquecida d’Ele, pegava em toda a terra, ia dentro do meu coração buscar sangue, todo o sangue, amassava-o com ele. Fiz uma bola, bola que eu amava, bola que era minha e lhe comuniquei toda a minha vida. Era mundo e era Deus. Como Deus, era vida, pureza e amor; como mundo, pecado, podridão e morte. As minhas horas de vigília foram de indizível dor no corpo e na alma. Hoje, o meu coração seguiu o caminho do calvário pedregoso, espinhoso, cheio de sangue. A dor sempre infinita fazia-me agonizar a alma. Em silêncio não deixava de bradar ao Céu, sem vir para mim o socorro que eu pedi. No cimo da montanha, longe da cruz e de Jesus compartilhava com Ele dos Seus sofrimentos, que os meus pecados Lhe causaram. Entregue ao vício e ao mundo, não sofria com isso; mas aquela dor que era de Jesus prolongava-me a agonia. As pessoas, à volta de mim, humilhavam-me muito, muito. Eu fitava o céu e no íntimo do coração repetia: “sou a Vossa vítima, Jesus. Tudo por Vós e pelas almas”. Como na sexta-feira passada, veio alguém que me levou como que para outro mundo mais alto que este. E então a humilhação e a dor foram mais suavizadas. Jesus expirou; e todo o meu ser me pareceu perder a vida também. Jesus, como se mais uma vez ressuscitasse, entrou com toda a fortaleza no meu coração e com todo o amor falou-me assim:

― “Desci, desci a este coração puro e amante. Desci do Paraíso, vim a este calvário dar-lhe os últimos retoques, retoques divinos, retoques de graças, retoques de amor. Colóquios das almas, colóquios que foram para as almas. Desci, desci e mais uma vez venho pedir-vos: quero ser amado, quero ser amado. Sou o Senhor do amor. O meu Divino Coração é só amor. Sou o Senhor, sou o Senhor. O meu Divino Coração está cheio de misericórdia. Quero perdoar-vos, quero perdoar-vos. Vinde a mim, ó pecadores. É mais uma vez que Jesus pede. Faça-se oração, faça-se penitência. Ó mundo, ó mundo cruel, deixa de alancear, deixa de alancear e apunhalar este Coração Divino, este Coração que é todo amor. Alerta, alerta, pecadores! Alerta, alerta, humanidade inteira! Alerta, corações que me amais! Alerta, corações que me ofendeis! Alerta, alerta, alerta, porque o Senhor vem punir-vos! Coragem, fortaleza e amor para os que já amam! Penitência, penitência, emenda de vida para aqueles que tanto me ofendem, aqueles que tanto me ofendem”.

― Jesus, Jesus, vós estais triste? Eu sinto a Vossa tristeza, e as lágrimas dos Vossos olhos divinos caem sobre o meu coração. Que fazer, Senhor! Que fazer, Senhor! Que fazer, meu Jesus!

 

Jesus, meu Deus, Jesus, meu Pai
Eu Vos adoro, Jesus, meu Deus.

Jesus, Jesus, Jesus, meu Pai, meu Pai.

Eu Vos adoro, eu Vos adoro
Aqui presente, aqui presente
No meu pobre, no meu pobre e frio e frio coração
Para os pecadores, para os pecadores
Imploro, imploro, imploro perdão, perdão.

 

― “Minha filha, minha querida filha, esposa do Rei divino, foi ouvida, foi ouvida a tua prece. Eu quero perdoar, eu quero perdoar, mas quero, sim, quero que me seja pedido esse perdão. Há tanto, tanto quem me ofenda e tão pouco quem se arrependa. Há tanto, tanto quem peque e tão pouco quem arrepie caminho. Perdão, perdão, perdão, perdão para os filhinhos meus, para os filhinhos do meu sangue, para todos por quem dei a vida. Repara o meu Divino Coração. Repara o Coração da minha bendita Mãe. Tantas e tantas vezes tens visto e tens sentido o quanto ela sofre”.

 

Ave Maria, ave Maria
Ave, ave Maria
Cheia sois de graça,
Cheia sois de graça,
Cheia, cheia sois de graça,
Mãe, ó Mãe, Mãe, ó Mãe,
O Senhor é convosco.

Faz, ó Mãe, faz, ó Mãe, que Ele seja connosco,
Com todos, com todos os filhos teus, os filhos teus.

Ave Maria, ave Maria, ave, ó Mãe dos pecadores!

Roga a Jesus por nós, roga a Jesus por nós, roga a Jesus.

Lembra a Jesus as tuas dores.

Roga, roga a Jesus, roga a Jesus,
Lembra a Jesus as tuas dores, as tuas dores, as tuas dores,
Ó Mãe, ó Mãe das Dores, ó Mãe das Dores,
Ó Mãe, ó Mãe dos pecadores.

 

― “Coragem, minha filha! Coragem na tua cruz! O Senhor está contigo! O Senhor é sempre contigo! Terminam dentro em pouco os colóquios das almas, mas os teus, os colóquios de conforto, os colóquios de fé, ficam. Sim, minha filha, velarei por ti. É urgente sempre velar e velar sempre por ti. Colóquios de conforto, colóquios de fé, porque vão ser sempre, sempre até à tua partida para o Céu. Colóquios de grande dor, de grande dor, de grande dor, minha filha. Não sou Eu, é o mundo, minha filha, não sou Eu, são os pecadores, os pecadores que me levam a exigir da vítima deste calvário esta imolação e indizível martírio.

 Aceitas, minha filha, aceitas, esposa minha, aceitas, mimo eucarístico, flor mimosa, violeta escondida, aceitas, violeta pequenina?

Diz, diz ao teu Jesus que sim. Promete ao teu esposo toda a imolação, toda a tua reparação para os pecadores”.

 

Aceito, Jesus, aceito, Jesus, aceito, aceito, Amor.

Aceito, Jesus, aceito, Jesus, aceito, aceito, Amor.

Aceito a cruz, aceito a cruz, pelo Vosso amor.

Cantai, cantai, ó anjos
Cantai, cantai ao Senhor
Cantai, cantai, ó anjos
Cantai louvor, louvor, louvor ao Senhor.

Cantai, ó anjos, cantai um hino
Cantai um hino, cantai, cantai, cantai
Bendizei, bendizei ao Senhor
Bendizei, bendizei ao Senhor
O Seu amor, o Seu amor, o Seu amor.

Na minha cruz, na minha cruz, na minha dor.

Na minha dor, na minha dor.

Quero amar-te, quero amar-te
Quero amar-te, ó Jesus
Quero amar-te sempre, quero amar-te sempre
Quero amar-te sempre, Senhor, Senhor, Senhor.

Na minha cruz, na minha cruz.

Oh como é doce, oh como é doce o teu amor!

O teu amor na dor, o teu amor na dor, na dor.

 

― “Vem, minha filha, vem agora receber a gota do meu Divino Sangue. Passou, passou a gota do sangue, o alimento que te dá a vida, a força que te faz triunfar na tua cruz. Passou a gota do sangue que trouxe do ventre da minha bendita Mãe. É o sangue das virgens, é o sangue dos inocentes.

Fica na tua cruz, não percas o teu sorriso. És a enganadora do amor. O amor obriga-te, minha filha, o amor leva-te ao sorriso. O teu sorriso em tanta dor, em tanta amargura dá tanta reparação ao meu eterno Pai! Consolas muito o meu Divino Coração e o da minha bendita Mãe. Tem coragem, todo o teu martírio são rosas, pérolas, pedras das mais preciosas que adornam a tua coroa no céu”.

― Ó meu Jesus, Vós bem sabeis, ó meu Jesus, Vós bem sabeis que não é nada disso. Não é o prémio que me leva a subir, a subir, alegre, o meu calvário. Sois Vós, sois Vós com a Santíssima Trindade, sois Vós na Eucaristia. É o Vosso Divino Coração. Sois Vós crucificado. Sois Vós e a Mãezinha querida. É o amor que Vos dedico; eu não o sinto, não o sinto, é certo, mas confio, confio que Vos amo. Sois Vós, são as almas. Quero-as todas, todas, se for possível, todas para o Vosso Divino Coração, todas para o Paraíso.

― “Fala-lhes, fala-lhes, minha filha; conta-lhes as minhas mágoas. Diz-lhes quanto sofre o meu amorosíssimo e dolorosíssimo Coração. Elas são tuas. O mundo é teu, para que mo entregues. Convida-o ao arrependimento. Convida-o à emenda de vida”.

― Ó meu Jesus, ó meu Jesus, perdão, perdão, perdão para os meus pecados. Perdão para todos os pecados da humanidade inteira. Não Vos esqueçais, meu Jesus, não Vos esqueçais de todos os meus pedidos, de todas, de todas as minhas intenções. Abraço-Vos, Jesus, abraço-Vos. Abraço a minha cruz.

Obrigada, obrigada, meu Jesus, por toda a dor e por todo o amor que me dais. Obrigada, o meu eterno obrigada. Ai, Jesus, ai Jesus, não sei como hei-de passar sem Vós. Confio na Vossa força divina. Obrigada, obrigada, meu Amor.

20 de Novembro de 1953 – Sexta-feira

 

NB – Terceiro colóquio gravado

 

Não sei se por Nosso Senhor, se pelo demónio, vem-me muitas vezes a ideia de não escrever mais. Ó santa obediência, como tu és poderosa. Se eu não tivesse de obedecer nada, mesmo nada dizia. A agonia e tortura da alma é tão grande e tão indizível que me parece que por mais que eu falasse do sofrimento e das ânsias que tenho em mim acabava por dizer, que nem só uma palavra disse, que nada tinha mostrado deste mundo infinito de dor, tormento e ansiedade que tenho em mim. Tremenda ignorância, tremendas trevas, e inutilidade e mais ainda tremenda, pavorosa eternidade. O meu coração está como que rodeado de alto-falantes a falarem para toda a parte do mundo, a espalharem como que um sopro fortíssimo, a ecoar tudo quanto dentro dele está. Meu Deus, como eu precisava, como tinha necessidade de poder e saber falar, para que tudo isto chegasse dum pólo ao outro do mundo, para que esta voz e ansiedade infinitas penetrassem em todos os corações, para que um sol, que o coração tem que, não é meu, um sol infinitamente mais brilhante que sol da terra, brilhasse, aquecesse e iluminasse toda a humanidade, para que se levantasse uma revolução total em todos os corações de amor puro e louco para Jesus. Meu Deus, não sei dizer palavra, tudo isto é infinito, tudo isto é Vosso. Que dor, que tormento insuportável! Cabe em mim também a dor infinita, mas também não é minha, é também Vossa, meu Sumo Bem. Meu Deus, como eu desapareço, como sinto o meu nada à vista de tanta grandeza. Eu já não vivo, vive a minha inutilidade, a minha eternidade, que é um mundo, um mundo de pavor, um ódio infernal, desesperador e blasfemador contra o céu. Ó Jesus, valei-me, ó Mãezinha, valei-me e mostrai que sois minha Mãe. Quanta vez eu repito isto na maior das angústias, no maior dos tormentos. Os espinhos variadíssimos não deixam de por toda a parte virem ferir-me o coração. Ai, como ele sangra, como ele sangra. Ai, pobre de mim em tanto abandono, sem uma luz, sem um guia, sem sentir o mais pequenino apoio. Jesus, sou a Vossa vítima; seja feita a Vossa vontade. Tudo por Vós e pelas almas.

Não quis saber do Horto, fugi-lhe, fugi-lhe sempre, desprezei-o odiei-o, enquanto Jesus agonizava e suava sangue. Hoje foi celebrada no meu quarto a santa missa. Não tive um momento que sentisse que sabia assistir a ela. Mobilizei o Céu com a Mãezinha à frente, para suprirem a minha falta. Jesus ia subindo a encosta do Calvário, todo em sangue, todo despedaçado e em suores frios da morte. Eu fugi-lhe sempre, sempre. Quando Ele estava no calvário, na cruz crucificado, o amor do Seu Divino Coração atraía-me a Ele. Alguém me seduzia para junto da cruz, para mais os seus raios penetrarem em mim e me aproveitar dos seus méritos. O demónio arrastava-me para longe d’Ele. Dentro do meu coração, conseguiu levar-me para fora do calvário. Eu sorria-lhe, condescendia com os seus desejos. Cena tristíssima! Jesus numa dor e agonia infinita expirava por minha causa. Senti na alma como se também morresse; fiquei por momentos num silêncio mortal. Jesus ressuscitou, entrou triunfante, iluminou a casa do meu coração e falou-me assim:

― “Está aqui o Senhor do Paraíso, o Rei do Céu e da terra. Está aqui por amor e só por amor. Escolhi este calvário por amor dos pecadores, por amor da humanidade inteira. Posso intitulá-lo. Sou Eu, Jesus, a dar-lhe o título “Calvário dos pecadores”. Foi por amor, só por amor que escolhi esta vítima para salvar aos milhares, aos milhões os pecadores. Foi por amor, só por amor, que Eu escolhi esta vítima para afervorar os corações que já me amam há muito, mas para os incendiar mais, muito mais, cada vez mais. É tão pequenino o número das almas vítimas! É tão pequenino, tão pequenino o número das almas que deixam tudo para se entregar só a Mim, que sofrem tudo por meu amor para me consolar. É tão pequenino o número das almas que me amam. Eu quero amor, Eu quero ser amado. Alerta, alerta! Conduzi a Mim os corações frios, conduzi a Mim os corações tíbios! Conduzi a Mim um grande número, o maior número de corações de pecadores, de grandes pecadores, de cruéis pecadores! Estou triste! Estou tristíssimo! O mundo, o mundo, os pecadores não escutam a minha divina voz, não atendem, não atendem os meus pedidos. Pobre mundo! Pobre mundo! Pobres pecadores! Escolhi esta vítima para reparar o meu Divino Coração, para aplacar a justiça do meu Eterno Pai e para dar honra e glória à Santíssima Trindade, à Santíssima Trindade, à Santíssima Trindade!

 

Glória, glória ao Pai, ao Pai, ao Pai.

Glória, glória ao Filho, ao Filho, ao Filho.

Glória, glória, glória ao Espírito Santo, ao Espírito Santo, ao Espírito Santo.

Glória, glória, gloria no Céu, no Céu, no Céu e na terra.

Glória e amor, glória, glória e amor.

Seja dada, seja dada, seja dada ao Pai, ao Filho, ao Espírito Santo.

Amo a Trindade, amo a Trindade augusta, amo a Trindade augusta.

Adoro, adoro, adoro o Pai, o Filho, o Espírito Santo.

 

― “Coragem, coragem, minha filha. Depois te darei honra e glória. Depois de adorar a Trindade augusta, escuta, escuta o meu Divino Coração. É dele que sai o brado doloroso. É ele que está a sangrar. Tens de sofrer muito, minha filha, tens de sofrer muito, minha esposa, no pouco tempo de vida que te resta na terra. Eu já não peço o teu consentimento. Sei que aceitas, sei que aceitas tudo por amor. A tua generosidade, a tua fidelidade chega, chega até ao fim. Fala às almas, fala às almas. Eu quero que fales às almas. Dá todo o teu sangue por elas, à minha semelhança. Foi para isso que te coloquei, que te coloquei neste calvário”.

― Não chores, Jesus, não chores, não chores, Jesus. Não chores, não chores, não, meu Amor, não, meu Amor. Sofro alegre, sofro alegre, sim, sofro alegre por teu amor. Não chores, Jesus, não chores, Jesus. As tuas lágrimas, as tuas lágrimas ferem o meu coração. Quero a tua dor, ó Jesus, quero a tua dor, ó Jesus, para que não sofra, para que não sofra o teu Divino, o teu Divino, o teu Divino Coração, Coração, Coração. Infeliz, infeliz, longe do meu Deus; infeliz, infeliz, longe do meu Senhor. Logo, logo, logo toda a abundância gastei, gastei a sua herança, gastei a sua herança, gastei a sua herança, gastei o que do meu Deus herdei. Gastei a graça, gastei a graça, a graça, a graça que do meu Deus, que do meu Deus herdei herdei, herdei, herdei.

― “Avante, coragem sempre, esposa fiel. Avante, avante, íman atraente, íman atraente. As almas, os pecadores atraem-se, vêm a Mim. Tem coragem! Tem coragem! O Senhor é contigo! Vão, vão terminar os colóquios dos pecadores, os colóquios das almas, os colóquios de toda a humanidade, mas Eu fico, venho dar-te a gota do meu Divino Sangue, cuidarei sempre de ti, porque é o teu alimento. Eu estou sempre contigo na tua eternidade e inutilidade, nas tuas trevas, no teu pavor. Eu estou sempre com aqueles que tudo esperam de Mim, que sempre confiam em Mim. Eu estou sempre, sempre com os pequeninos. É dos pequeninos que Eu faço coisas grandes, coisas grandes, muito, muito grandes. Sofre por meu amor. Sofre por meu amor, sofre por meu amor. Louva a Jesus, louva a Maria! Dá honra e glória a Jesus. Dá honra e glória a Maria”.

 

Eu amo-Te, eu amo-Te, eu amo-Te, Senhor
Eu amo-Te, eu amo-Te, eu amo-Te, Senhor
E só me sinto bem
Na paz do teu amor.

E só me sinto bem
Na paz do teu amor.

Na paz do teu amor.

Na paz do teu amor.

Do teu amor.

Do teu amor.

Do teu amor, amor, amor, amor.

Amor.

Amo-te, Jesus; amo-Te, Mãezinha.

Amo-Te, Mãezinha,
Tu és Mãe, Mãe,
A Mãe de Jesus.

Tu és minha Mãe,
A Mãe de Jesus.

Amo-Te, Jesus, amo-Te, Jesus
Amo-Te, Mãe minha,
Mãe minha,
Mãe minha,
Mãe dos pecadores
,
Mãe dos pecadores,
Mãe dos pecadores.

Rainha do Céu,
Mãe dos pecadores,
Rainha do Céu,
Roga por mim.

Roga por mim.

Roga por mim ao Senhor,
Ao Senhor, meu Deus,
Meu Deus.

Roga por nós todos,
Somo pecadores, ó Mãe,
Ó Mãe,
Ó Mãe.

Somos pecadores, somos filhos teus.

Somos filhos teus,
Somos filhos teus,
Somos filhos teus,
Somos filhos teus,
Somos, Somos filhos teus,
Somos, Somos filhos teus.

 

― “Vem receber a gota do meu Divino Sangue. Houve o choque dos nossos corações. A gotinha do meu sangue Divino passou. Passou a tua vida, a força. Passou o amor que te leva a sofrer, o maor que te leva a amar, o amor que te leva à imolação, à imolação, à imolação. Consola sempre o meu Divino Coração. Consola o Coração da minha bendita Mãe. Oh, como sofre a minha bendita Mãe! Oh, como sofre a minha bendita Mãe ao ver quanto sofre os eu Jesus, o seu Jesus, o filho das suas dores, o seu Jesus, filho das suas dores, que Ela viu expirar na cruz, que Ela vou expirar na cruz, na cruz.

Fica na tua cruz, fica no teu martírio. Ficai no vosso martírio. Ficai no vosso martírio. O Senhor é contigo. O Senhor é com todos os que trabalham na sua causa, na causa maior, na causa mais gloriosa que Jesus tem na terra.”

― Fico a sofrer, Jesus, fico a sofrer, Jesus, fico a sofrer, fico a sofrer, Jesus, por vosso amor e por amor da Mãezinha, pelos pecadores, pela humanidade inteira. Peço-Vos para nós todos o amor e o perdão. Peço-Vos amor e perdão para o mundo inteiro. Não me abandoneis, Jesus! Sede a minha força! Não Vos esqueçais das minhas intenções, das minhas grandes intenções. Obrigada, Jesus, obrigada por esta efusão de amor que me dais. Obrigada, obrigada.

27 de Novembro de 1953 – Sexta-feira

Nem ao menos posso dizer, a não ser com sentimentos de fé, já não sou eu que vivo, é Jesus que vive em mim. Creio, creio, meu Deus, mas é um crer forçado. Sinto que eu não vivo e sinto que Jesus não vive em mim. Mas a fé obriga-me a crer que Jesus vive, que Jesus reina e triunfa em mim. A minha confiança há-de ir tão longe, tão longe que eu hei-de crer, hei-de confiar que vivo, porque Jesus vive em mim, mesmo sem sentir os efeitos do Seu amor e da Sua presença. Ai de mim, sem Deus! Eu vou como que arrastada, sou obrigada pela fé que não tem olhos, ouvidos, nem lábios, nem sentimento algum. Jesus, Jesus, fazei que a minha confiança seja tão grande como Deus! Quero acreditar que não estou só e uma força infinita vinda de não sei onde é que me obriga a acreditar em Vós, na Vossa presença em mim. Tenho de viver sem vida, tenho de ver, ouvir e falar sem olhos, sem ouvidos, sem lábios; tenho de amar sem amor. Meu Deus, meu Deus, como poderá ser isto?! Valei-me, Senhor, valei-me; fazei que a minha confiança chegue até Vós. Veja eu tudo contra mim, seja total o meu abandono, veja eu desfazer-se a terra e até mesmo o firmamento, mas não deixo de confiar em Vós. Estou cheia de pavor, parece que morro de pavor. Toda a terra treme, toda a terra parece abrir-se em inferno e eu a desaparecer, a fundir-me nas fendas da terra, a transformar-me, toda mergulhada nesse mesmo inferno. Quem poderá valer-me, Senhor? Só Vós, só Vós. E a minha eternidade não conta, não caminha. Sem principiar, está sempre em princípio. E eu nesse abismo pavoroso, infernal, odeio, odeio, blasfemo contra o meu Senhor. A minha dor, a minha dor é infinita e no meio da minha inutilidade infinitas são as minhas ânsias. Elas são devoradoras, queimam-me, consomem-me como fogo. O meu coração continua a dar-se ao mundo como sopro, como brisa de vento. É como um eco a ecoar nas montanhas e vai desfazê-las, penetra nelas como raios. As minhas ânsias infinitas só seriam saciadas com os corações do mundo inteiro. Jesus quer almas, almas, almas, e eu quero dar-Lhe todas as almas. Que fome, que fome que me mata! Os espinhos e punhais ferem-me a cada instante. A cruz pesa-me, atira-me a terra. Esmaga-me a justiça do Senhor. Não me importa, hei-de amá-Lo e dar-Lhe as almas. Confio, confio. Não tive Horto nem Calvário. Fui cadáver morto, depositado sobre a terra. Passei a noite, quase em vigília. Fui ao encontro de Jesus à prisão, mas sempre um ser morto e nada mais. O coração sangrava pelas ofensas por mim feitas a Jesus. Nem o sangue derramado, nem a dor infinita me pertenciam. Ser morto e inútil, cheguei ao cimo da montanha. Só de longe a longe senti os suores frios da morte. Sem me unir a Jesus, soube que Ele entregou ao Pai o Seu espírito, porque a Sua voz falou dentro em meu peito. Tudo ficou em silêncio de morte. Mas bem depressa veio, de novo, a vida. Jesus triste, mas com luz falou-me assim dentro do coração:

― “Aprendei, aprendei deste calvário, aprendei de Jesus, que é puro, manso e humilde de coração.

Aprendei, aprendei, filhos meus, aprendei a amar, aprendei a sofrer, aprendei a levar a vossa cruz.

Eu sou o mestre, eu sou o modelo que deveis imitar.

Aprendei de Mim. Ouvi a minha voz pelos lábios da minha vítima, da minha crucificada.

Amai a Jesus, amai o Senhor, vosso Deus.

Amai a Jesus, amai o Senhor vosso Deus.

Amai a Jesus e à sua semelhança tomai e caminhai com a vossa cruz.

É muito difícil? Sobrecarrega-vos?

Antes o foi para Mim, a Mim me sobrecarregou. Amai a Jesus! Amai a Jesus!

Deixai o pecado! Amai o Senhor vosso Deus!

É Jesus quem fala! É Jesus, é Jesus, é Jesus quem fala!

Atendei ao Senhor! Atendei ao Senhor! É Jesus quem fala!

(Atendei ao Senhor! Atendei ao Senhor!)

É Jesus que veio a este calvário, a este calvário, a este calvário, por vosso amor, por vosso amor, por vosso amor!

 

Vem a Mim, ó pecador!

Vem a Mim, ó pecador, vem ao meu Coração,
Vem ao meu Coração, que arde noite e dia
Que arde noite e dia!

 

Só por teu amor, só por teu amor
Aqui estou, Jesus, contrito e arrependido
Aqui estou, Jesus, contrito e arrependido
Aqui estou, Jesus, contrito e arrependido.

Dá-me o teu amor, dá-me o teu amor
Dá-me o teu amor, dá-me o teu perdão.
Dá-me o teu perdão, ó Jesus, ó Jesus, ó Jesus!

 

― “É por ti, ó filha querida, é por ti que Eu perdoo. Convida, convida os pecadores. É por ti que para eles passam as minhas graças. É com a tua reparação que os ingratos, que me ferem, os ingratos, que me maltratam, recebem o meu perdão.

Vem, vem, pecador, escuta, escuta a voz do teu Pai. Queres seguir-me? Queres o Paraíso? Segue, segue os meus passos, não peques mais. Segue, segue os meus passos, não pequeis mais. Vem depressa, vem, enquanto é tempo. Vem ao meu Coração. Já não posso, já não posso sustentar por mais tempo a justiça do meu Pai. Dura, dura expressão. Não pode o Senhor, não pode Jesus com a justiça vingadora do Seu Eterno Pai”.

 

Jesus, bem sei, Jesus, bem sei, Jesus, bem sei

Que não sou mais digna de meu Pai, de meu Pai
Nem “meu Deus”, nem “meu Deus” Vos chamar.

Sei que fui, sei que fui filho indigno, filho indigno,
Que só quis, que só quis, que só quis
A meu Pai contristar.

Que só quis, só soube a meu Pai contristar!

Perdão, Jesus! Perdão, Jesus! Perdão, perdão, perdão,
Jesus! Perdão, perdão, Jesus! Perdoai, meu Jesus! Perdoai,
Meu Jesus. Perdoai, perdoai!

 

― É Vossa a humanidade, são Vossos os pecadores. São Vossos os pecadores, meu Jesus. Sou Vossa eu também. O que eu fui, o que eu sou, meu Jesus! Sede Pai, sede Pai! Sede misericórdia que não esquece, mas que ama. Ai, meu Jesus, Vós estais triste, Jesus? Sinto e conheço a Vossa tristeza. Também eu estou, meu Amor. Estou triste, porque não sei amar-Vos. Estou triste, porque não sei levar a minha cruz. Estou triste, porque não sei levar a minha cruz, não tenho força para Vos dar as almas.

― “Tem coragem! Tem coragem, minha filha! As tuas faltas dão-me glória. Eu permito muitas, muitas coisas, mas pequenas coisas para pôr os homens à prática, à luta. Se eles compreendessem! Eu permito as tuas faltas, os teus pequenos deslizes, para a tua humilhação, grande humilhação! É dela que eu tiro grande proveito para os pecadores. Fala às almas! Fala às almas, fala-lhes muito. Quero que lhes fales”.

― Ó Jesus, tudo farei, meu Amor, à medida que me for possível. Sabeis que eu não tenho forças. Sabeis bem quanto elas me falham. Só Vós podeis vencer e falar em mim. Sabeis mais, muito mais, que tenho de obedecer e que para mim é gostoso obedecer. Não estejais triste, Jesus. Não estejais triste, meu Amor. Os Vossos olhares são moribundos, são de agonia, agonia dolorosíssima, meu Jesus, e o Vosso Divino Coração sangra tanto, tanto!...

― “São os pecadores, minha filha. São os pecadores! É o mundo cruel, é o mundo ingrato que assim me fere e faz agonizar de dor. Pede, pede perdão para ele ao teu Jesus e convida-os a todos a virem a Mim”.

 

Perdão, meu Deus, perdão, Senhor!

Perdão, meu Deus, perdão, Senhor!

Para o pecador, para o pecador.

Perdão, Jesus, perdão, meu Pai,
Perdão, Jesus, para o pecador!

Vem, pecador, vem, pecador, vem, pecador, ao teu Deus.

Vem, pecador, vem
Vem, vem ao teu Deus
Vem pedir perdão
Vem pedir perdão.

Chora as tuas culpas
Chora as tuas culpas
De alma e coração,
De alma e coração.

 

― “Vem receber a gota do meu Divino Sangue. Os nossos corações uniram-se. Eles estão sempre unidos. É um termo popular que Jesus emprega. Jesus adapta-se a todas as linguagens. Uniram-se os nossos corações. Estavam unidos os nossos corações. A gotinha do sangue passou. Passou forte, forte. Já corre nas tuas veias. É o teu alimento, divino alimento, prodigioso alimento. Fica na tua cruz. Fica com alegria. Dá-me dor, dá-me dor, dá-me dor. Dá-me reparação, dá-me reparação, dá-me toda a reparação. Avisa, avisa o mundo. Ai, que incêndio, ai que incêndio de erros, de vícios, de maldades e de crimes. Faça-se oração. Faça-se penitência. Jesus o quer, Jesus o pede. Vai em paz, minha filha. Vai dar a minha paz e vai distribuir o meu amor, todo o meu amor”.

― Obrigada, obrigada, meu Jesus. Compadecei-Vos do mundo inteiro e não esqueçais as minhas intenções todas, todas, meu Jesus.

   

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