1 de Agosto de 1953 – Primeiro
Sábado
Num sofrimento
inaudito passei a noite e preparei-me, de manhã, para a vinda de Jesus. Foi por
assim dizer a dor e a ânsia que Ele viesse depressa, a minha preparação. Jesus
deu entrada e logo os nossos corações uniram-se numa união profunda que mais
parecia eterna. Pouco depois, Jesus falou-me assim:
“A graça, a
graça, oh como eu me uno à alma que está em graça! Como Eu me delicio na alma
pura, na alma alva, na alma amante do meu Divino Coração! Minha filha, esposa
querida, jardim florido, paraíso das minhas delícias na terra. Fujo do mundo,
fujo dos pecadores, fujo das almas que mais gravemente me ofendem. Venho aqui a
este coração buscar, sim, minha filha, oh que chega Jesus a buscar lenitivo para
a minha dor, procurar esquecer a maldade dos homens. Assim o posso fazer na
contemplação destas flores variadas, neste perfume delicioso de tantas, tantas
flores de virtudes que possui o teu coração. O mundo, o mundo cego e louco, cego
e louco pelas paixões, não cessa de ofender-Me.
É urgente e mais
que nunca urgente reparar a justiça de meu Pai. É urgente e mais que nunca
urgente desagravar o meu Divino Coração e o de Minha Bendita Mãe. Minha filha.
Minha filha, escuta, escuta o meu desabafo. A classe sacerdotal!... Ao que
chegou a classe sacerdotal!... Oh, oh, oh! Como Eu sou por ela ofendido! Muitos,
muitos, muitos infelizes se condenarão, se não houver muitas, muitas almas a
imolar-se, a sacrificar-se, a orar noite e dia por eles. Sofre, sofre, sofre na
tua cruz! Avante, avante, avante! O teu consummatum está quase, quase
completo. Sofre, sofre por Jesus e Maria. Alegra, alegra, alegra os Nossos
Corações. Dá-me dor, dor, dor! Dá-me dor, dor, dor, vós todos os que trabalhais
na minha causa divina. Quem a pede é o Senhor da vitória, é o Senhor do triunfo.
Diz, diz ao teu
Paizinho, ao verdadeiro imolado, ao verdadeiro imolado, diz-lhe que o amo muito,
loucamente, apaixonadamente. Diz-lhe que o segredo da reparação que dele exigi,
foi, é e será sempre a causa deste desabafo que hoje como tantas vezes tenho
tido contigo. Os sacerdotes, os sacerdotes, os ingratos e cruéis sacerdotes.
Diz-lhe que muito o amo. A prova é de muito o fazer sofrer.
Diz ao te médico
que o seu nome está escrito no meu Divino Coração e os nomes de todos os que lhe
são queridos. Nele estão escritos os seus nomes. Nele ocupam todos lugares
elevados. Diz-lhe que o amo, amo, amo, porque ele é meu. Diz-lhe que o amo, amo,
amo, por ser defensor da minha divina causa, da minha maior causa. Foi, é e será
sempre o defensor por Mim escolhido. Coragem, coragem e confiança no Senhor
Todo-poderoso, n’Aquele que pode dominar todos os corações, naquele que é
vencedor, n’Aquele que é triunfador sobre todos os homens.
Vem, minha
Bendita Mãe, vem, Mãe das Dores. A hora é de dor, é de dor”.
Ó Mãezinha, ó
Mãezinha, basta de Vos ver sofrer. Não quero ver o Vosso Santíssimo Coração
trespassado de tantas setas, cercado por tantos espinhos. Passai, passai para
mim tudo.
“Minha filhinha,
minha filhinha, esposa amada, esposa predilecta de Jesus, a minha dor, o meu
sofrimento conforta-te na tua dor, no teu sofrimento. Alegra-te, alegra-te. A
dor eleva a alma, eleva as almas para Deus. Depois da minha dor veio a minha
Assunção. Ao terminar na terra toda a tua dor, vem também a tua. A tua alma
acompanhada por Mim e pelos anjos vai subir, subir, subir ater ao Paraíso, até
ao seio de Deus. Vês-me agora a subir ao Céu e bem depressa, bem depressa hás-de
vir e gozar na Pátria dos bem-aventurados, dos eleitos do Senhor”.
Ó Mãezinha,
vejo-Vos subir e não deixo de Vos contemplar. Subi, subi e ficai comigo. Subi,
subi e ficai com todos os que comigo sofrem. Subi, subi e ficai com a humanidade
inteira, para que ela toda se salve. Ó Jesus, ó Mãezinha, muito obrigada pelo
amor e conforto que de Vós recebi. Se eu tivesse vontade e querer, dava-me
vontade e querer de subir conVosco para o Paraíso e de não voltar mais à terra.
Sou a Vossa vítima, Jesus. Sou a Vossa vítima, Mãezinha. Não Vos esqueçais de
todas, todas as minhas intenções.
“Vai, minha
filha, vai, minha esposa querida, vai, vítima, imolar-te dia e noite. Vai,
heroína forte e vencedora, no teu calvário. Fica na cruz, sempre na cruz. Leva o
amor de Jesus e de Maria. Leva este Céu de amor. Distribui-o a todos os corações
da terra. São todos, todos, filhos meus. Coragem, coragem! Paz, paz, amor e
confiança!”
7 de Agosto de 1953 – Sexta-feira
Hei-de vingar-me,
vingar-me sempre dos meus inimigos, confio em Jesus e na Mãezinha do Céu, que a
minha vingança há-de ser duradoura, até que os veja a todos no Paraíso. Os
espinhos que me ferem, o tormento que me consome, só Jesus o sabe. Sofro, sofro
indizivelmente. Numa hora de maior tormento perguntava eu a mim mesma: que
faltará para a morte? Imediatamente pareceu-me ouvir esta resposta: morrer!
O meu horto e o
meu calvário foram de um corpo morto sobre uma terra morta e apodrecida. Só no
momento, no alto do calvário, quando havia de expirar, outra morte, por
momentos, me arrancou desta morte. Jesus não tardou a dar-me a Sua vida e
falou-me assim:
― “É terno o
Coração Divino de Jesus e quer dar-se, dar-se a todos os corações famintos.
Quero ser saciado com o amor dos homens. Tenho fome, tenho sede do amor da
humanidade. São tão poucos os corações e as almas que têm fome e sede de Mim,
fome e sede verdadeiras, fome e sede sem doença, sem hipocrisia. Há muitos
corações e muitas almas, muitos corações e muitas almas infecciosas e doentes. O
seu amor, as suas ânsias são perigosas, são doentias. Quero ser amado, ser
amado, quero ser amado com amor puro e verdadeiro”.
― Ó Jesus, ó
Jesus, que fontanário é o Vosso Divino Coração. Se eu pudesse beber, beber
sempre, noite e dia, nesse tanque com todas as almas de que Ele é o centro!... É
belo, muito belo este espectáculo, meu Jesus. É bela, bela e ao mesmo tempo
comovedora esta cena! Do centro do Vosso Divino Coração sai sangue, sempre
sangue com abundância. É um vaso que transborda. Por todos os lados vejo veados,
vejo avezinhas. Eu sei, Jesus, eu sei que avezinhas são, mas não sei agora
dizer, que bebem cuidadosamente, mas não são muitas, não, meu Jesus.
― “São as almas,
minha filha, que têm a verdadeira sede do meu amor, de viverem e de se
alimentarem de Mim. E as outras!... E as outras!... Afastam-se da verdadeira
fonte! Vão beber à fonte dos prazeres, dos vícios. Vão mergulhar-se no mundo, na
podridão do mundo, deixando o seu Deus. Eu, como Pai, por todos dei a vida.
Sofro, sofro, choro. Acode-lhes, acode-lhes. Chama-as, convida-as. São filhas
também do teu sangue, das tuas dores, filhas da tua humilhação, vítima amada,
vítima querida. Se os homens compreendessem o amor que Eu tenho às almas, não se
opunham, não eram perseguidores daquelas almas escolhidas, daquelas almas que
vivem só em Mim, de Mim e para Mim. Se fosse compreendido o meu amor, era
compreendida a minha vida, a vida dessas almas eleitas, dessas almas de alta,
alta e nobilíssima missão”.
― Jesus, não
choreis. Gostei de ver a primeira cena, mas custa-me tanto ver a segunda.
Custa-me tanto ver-Vos sofrer, sem poder estancar e limpar as Vossas lágrimas!
Sou a Vossa vítima. Se eu pudesse arrancar do meu peito o coração, este
pobrezinho e indigno coração e chegá-lo aos Vossos olhos divinos para limpar as
Vossa lágrimas!... Estou certa que eu aproveitava! O meu coração ficava outro,
mais puro, mais humilde, mais cheio do Vosso amor. Já que nada tenho para Vos
dar, meu Amor, aceitai ânsias e desejos, desejos e ânsias sem fim. E não viver
senão para Vos consolar e para Vos amar e ser sempre, sempre, a Vossa vítima.
― “Coragem,
heroína forte! Coragem, florinha eucarística! Coragem na tua cruz! Dá-me a tua
dor. Dá-me todo o martírio. Os homens sem querer fazem que me dês grande, muito
grande, tanto quanto pode ser, grande reparação. Coragem, coragem! O Céu está
sereno. O Céu está senhor do triunfo. Deixa morrer o ódio, a perseguição, o
veneno, o maldito veneno.
Vem receber a
gota do meu Divino Sangue. Foi o mesmo centro que dava, que o deu para o meu
coração”.
― Éreis Vós nele,
sois Vós em mim.
― “Minha filha,
minha filha, dei-te mais sangue, porque a dor tudo em ti queimou, tudo consumiu.
Vives do meu Sangue, da minha vida. Tenho de velar por ti. Coragem, coragem!
Sofre, sofre pelo mundo perdido, pelo mundo desvairado e cego. Os pecadores, as
almas apodrecidas necessitam de ti. Cura-as, cura-as; dá-lhes a vida com o teu
martírio. Vai em paz, vai em paz. Coragem e confiança! Coragem e confiança!
Coragem e confiança!”
― Obrigada,
obrigada, meu Jesus! Não Vos esqueçais de todos os meus pedidos de toda, de toda
a humanidade. Sou de tudo a Vossa vítima.
(Nota,
feita quando muito naturalmente conversava, em 11 de Agosto de 1953)
Eu queria gravar
nas pedras da rua, das estradas, dos fontanários, nas praças, nas praias, nos
desgraçados casinos, nos cinemas, nas casas de pecado, etc., etc., em toda a
parte, isto:
Pecadores,
convertei-vos! Vinde a Jesus! Não fomos criados para a terra, mas sim para o
Céu! Não ofendais a Nosso Senhor! Ah, se soubésseis o que é uma ofensa feita ao
Seu Divino Coração! Eu vivi por vós, sofri por vós, morri por vós e por vós vou
continuar o meu Céu. Foram por vós todas as minhas aspirações. Não queria um só
momento de aos vossos ouvidos falar do amor que Jesus nos tem e o que é a nossa
ingratidão para com Ele, quando pecamos. Queria dizer muita coisa para os não
deixar cair no pecado. Amai o Senhor! Amai o Senhor! Temei o inferno!
(Outra Nota,
tomada no mesmo dia):
Eu agradeço todos
os benefícios que recebo, que conheço e não conheço, todos os que recebi e
hei-de receber no tempo e na eternidade, que é o Céu, e agradeço os que por meu
intermédio são concedidos às almas. Agradeço por aqueles que não agradecem a
Nosso Senhor, pela humanidade inteira, mas peço a Jesus que não aceite este
agradecimento como meu, mas sim como que fosse cada um a agradecê-los, para
assim Jesus não sentir a ingratidão de nenhuma alma.
14 de Agosto de 1953 – Sexta-feira
Estou a viver a
minha eternidade e quase posso dizer se torna insuportável a minha vida. Parece
que um momento nunca passa, que está sempre em ser. Meu Deus! Meu Deus! Não sou
eu, não vivo eu, não vivo, não sofro, não sou eu, mas o mundo, as maldades, esse
é meu. Sofri muito e sofro com a inutilidade que tudo me roubou e rouba, mas
agora a viver na terra a eternidade custa mais, ainda mais. Valei-me, Senhor,
não me deixeis pecar. Não posso dizer o que sofro pela minha ignorância e pelo
meu martírio, mas também é indizível, sempre indizível falar desta eternidade.
Passei pelo horto e subi ao calvário vivendo esta pavorosa eternidade e na mesma
eternidade me entreguei ao Pai e nele fiquei como se morresse. Depois, por um
espaço de tempo veio Jesus ao meu coração e colocou-me sobre o Seu Divino
Coração e fez que nele adormecesse mergulhada em doçura e paz. Depois fez que eu
despertasse com a Sua voz divina, que assim me falou:
― “Dormiu a tua
alma, minha filha, um sono terno e suave no Coração do teu Jesus. Dormiu, dormiu
e, neste sono doce, terno e suave, tomou conforto e nova vida. Jesus é a tua
vida, Jesus é o teu guia, o teu apoio, o teu amparo. Descansa, descansa, o teu
repouso é celeste. Vives do Céu e não da terra. O que sofres, tudo o que sentes
é a reparação, dura reparação que o teu Jesus te pede, porque as almas o exigem.
Coragem, coragem, sempre avante! Todo o teu sofrimento é a reparação da alma
vítima, a mais alta reparação de elevada eleição. Coragem, coragem! Confiança,
confiança! O teu Céu está tão pertinho… Avante, avante! Um pouco mais e depois a
visão beatífica, o gozo completo, a glória eterna. Fala às almas, fala às almas,
mãe das almas, mãe dos pecadores. Tantas vezes já o disse e digo mais, mãe dos
pecadores, dos pecadores, dos pecadores, à semelhança de minha Bendita Mãe.
Avante, avante, luz e farol da pobre humanidade, humanidade perdida. Tantos
pecados, minha filha, tantos pecados, minha filha, tantos crimes hediondos,
esposa minha. Pobre mundo, pobre mundo sem as minhas vítimas. Pobre mundo, pobre
Portugal, sem a vítima deste calvário! Filhinha, filhinha, mártir, mártir,
mártir de Jesus. É por Mim o teu martírio, bem o sei. É pelo meu amor que dás a
tua vida. É pelo meu amor, só pelo meu amor que tu dás a vida a milhões, milhões
de almas. Tudo no Céu está escrito à medida que vais sofrendo. Os anjos, sim, os
anjos vão escrevendo, gravando tudo em letras de ouro, pedras e pérolas das mais
preciosas. Ó cruéis, ó cruéis, ó cegos, ó cegos, miseráveis cegos que não
quereis ver a vida divina de Jesus nas almas”.
― Ó meu Jesus, ó
meu Jesus, enquanto Vós falais, a minha alma goza o Vosso sono divino, o Vosso
sono de paz. Bendito sejais, bendito sejais! Velai, velai sempre por mim. Tenho
medo, muito medo, pavor de sucumbir e pecar. O meu abandono a Vós é completo. É
pela Mãezinha que sempre a Vós me dou. Sou a Vossa vítima, sou a Vossa vítima.
― “Repara,
repara, minha filha. Quero a escora dos teus sofrimentos a sustentar a justiça
do meu Pai. Repara, repara, repara, esposa querida, florinha eucarística, mimo
celeste, que neste calvário coloquei. Repara o meu Divino Coração e o de minha
Bendita Mãe. Tira deles todos os espinhos. Cicatriza-nos todas as feridas.
Tantos pecados nas casas do pecado. Tantos pecados nas praias, casinos e
cinemas. Tantos pecados, vícios e crimes em toda a humanidade. Repara, repara
por tudo e vem receber a gota do meu Divino Sangue. Chocaram-se os nossos
corações. A gotinha do Sangue passou do Meu para o teu como torneira que se
abriu. Passou o Sangue Divino co maior abundância. Nova vida para a continuação
do teu martírio. Nova vida para a imolação na tua cruz. Dá-me almas, almas,
almas. Quero as almas, almas, almas. Quero amor, amor, amor, sempre amor. Fica
na tua cruz e nela brada sempre, sempre, sempre: oração, penitência, emenda de
vida. É Jesus, sim, é Jesus que to pede, sim, pelos teus lábios. Tu és a
missionária do Rei Divino. És o porta-voz de Jesus. Coragem, coragem. Vai em
paz. Fica na tua cruz”.
Obrigada, meu
Jesus, muito obrigada. Não Vos esqueçais de tudo, tudo quanto Vos tenho pedido.
Nos meus pedidos entra a humanidade inteira, porque toda ela é Vossa. Obrigada!
21 de Agosto de 1953 – Sexta-feira
Pesa, pesa a
minha cruz, é dificílimo o meu calvário. Só com os olhos no Céu, confiada em
Jesus e na Mãezinha, posso suportar tão grande sofrimento, que por vezes e não
poucas me parece insuportável. Não sei dizer o que se passa em mim e também não
posso, tal é o estado em que me encontro. O que sei é que pavorosíssima é a
minha eternidade; parece que é uma eternidade de revolta e de perda de Deus.
Nesta eternidade em que estou, no meio da inutilidade, parece que vivo sempre
esquecida do meu verdadeiro Bem, do meu único Amor. Sem me esquecer de Jesus e
da Mãezinha a quem me abandonei por completo, sem perder a Sua união, sinto como
se a Eles não estivesse unida, não tenho sentimentos de que Os amo nem de que
n’Eles confio. Estou morta para tudo. Tive junto do meu leito a Santa Missa. A
morte e a eternidade tudo invadiram. Estou certa que a Mãezinha supriu a minha
falta, foi isso o que Lhe pedi. Ontem, num impulso de amor, abracei o Horto, mas
não foi meu tal impulso de amor. Em seguida, prostrei-me nele, entreguei-me à
morte. E hoje, levada como que por uma aragem, num martírio alma e corpo fui
subindo a ladeira do calvário. A eternidade abafou todos os meus suspiros e
gemidos. Momentos dolorosos, momentos eternos que pareciam nunca passarem. O
coração inclinava-se à cruz que no cimo da montanha estava levantada ao alto;
era para ele o íman atraente. A ela me uni a viver sempre a eternidade e nesta
eternidade expirei, ou melhor, houve uma separação como no silêncio da morte.
Jesus veio triste, mas cheio de vida e entrou no meu coração e na sua dolorosa
tristeza, mas de ternura e meiguices pronunciou estas palavras:
― “Entrei como
dono, como senhor e senhor sou do teu coração. Minha filha, minha querida filha,
as almas, os pecadores precisam de ti, precisam do teu martírio. Não sou eu o
cruel, não é o meu coração divino de Esposo e de Pai que leva o teu corpo e a
tua alma a tão duro tormento. O mundo, o mundo exige, e Eu para o salvar
obrigo-me a imolar a minha esposa e filha muito querida. És esposa e és filha e
eu sou Esposo e sou Pai. Como Eu te amo! Como Eu te amo! Como Eu te amo! A
grandeza do meu amor levou-me a escolher-te a ti para luz a farol do mundo, para
mãe dos pecadores, para salvares as suas almas. Para as coisas da terra escolhem
homens sábios e grandes. Eu, para as coisas celestes, escolho os humildes, os
pequeninos. Sou Eu que os faço grandes, sou Eu que lhes ponho a minha sabedoria,
a minha ciência divina. Coragem, coragem, filhinha querida, florinha
eucarística. Coragem! Um pouquinho mais. Fala às almas, fala às almas. Estão
famintas, famintas de receber de ti o que por Mim, por ti lhes é dado”.
― Ó Jesus, ó
Jesus, não sei o que fazer. Eu não tenho forças, bem o sabeis. Todo o meu ser
está moribundo. Quero aceitar sempre, aceitar com a Vossa divina vontade. Só
Vós, só Vós sois o meu tudo.
― “Filhinha,
filhinha, miminho celeste, toda a tua vida lhes fala. Toda a tua vida é uma
pregação contínua. O teu sorriso forçado, os teus gemidos, todo o teu sofrimento
resignado fala aos seus corações, cativa-os, atrai-os e eles vêm a Mim. És a
missionária de Jesus e esta missão sublime continua com mais pompa, com mais
brilho, quando já estiveres no Céu. Jesus não falta, Jesus não falta. Eu quero,
Eu quero que, uma vez lá, muitos, todos os pecadores sejam entregues à tua
protecção. Coragem, coragem! Todo o Céu, todo o Céu te assiste. Os exaltados
hão-de baixar na sua soberba. Os humilhados hão-de subir e triunfar com o
Senhor. É grande, é grande a glória que tem sido dada a meu Pai. É grande e
sempre será grande no tempo e na eternidade. Minha filha, minha filha, repara o
Meu Divino Coração. Repara o Coração da minha Mãe Imaculada. A carne, a carne,
ai! o pecado da carne! Tantos crimes, tantos crimes! A justiça do meu Pai é
desafiada noite e dia. Consola a Trindade Divina. Consola a minha Mãe Bendita e
acode, acode, acode aos pecadores, a tantos prestes, a muitos prestes a caírem
no inferno”.
― Tende dó, tende
dó, Jesus. Não me poupeis, não me poupeis, não, meu Amor, a todos os
sofrimentos. Não me poupeis também a Vossa graça, o Vosso amor. Fazei de mim
tudo o que Vos aprouver. Alegrai-Vos, alegrai-Vos com o Pai e o Espírito Santo.
Alegrai-Vos com a querida Mãezinha. Jesus, fazei que eu os ame, ame, ame
loucamente. Fazei, Senhor, fazei, Senhor, que eu nunca tenha para Vós um não.
― “Vem receber a
gota do meu Divino Sangue. Colaram-se os centros dos nossos corações. Dois num
só, rodeado em chamas de fogo divino. Por entre estas chamas a gotinha do Sangue
passou. Foi grande, grande, muito grande, porque grande, muito grande é o teu
martírio. Sê forte, forte, muito forte com a minha fortaleza. Vive com a minha
vida. Ama com o meu amor. Dá-te às almas como Eu me dei. Assemelha-te a Mim.
Coragem! Fica na tua cruz. Confia, confia em tudo no teu Senhor. Pede-me,
pede-me sempre o que quiseres”.
Tenho tanto,
tenho tudo que Vos pedir, meu Jesus. Lembrai-Vos, Senhor, lembrai-Vos de todos,
de todos os que me são queridos e da pobre, da pobre humanidade inteirinha, meu
Jesus, inteirinha, meu Amor. É toda, toda Vossa. Obrigada, meu Jesus. Obrigada,
obrigada, meu Amor.
28 de Agosto de 1953 – Sexta-feira
Prolonga-se o
martírio do meu corpo; e não se prolonga menos o da minha alma. O tormento do
corpo faz-me sentir muitas vezes que vou desaparecer da terra. Mas a alma já tem
o sentimento de que nela não existo. É a eternidade que eu vivo, eternidade sem
amor, eternidade sem esperança. Estou encerrada e sepultada num cárcere de ódio,
de revolta, sem que eu, graças ao Altíssimo, odeie ou me revolte contra qualquer
coisa. Q eternidade está sempre em ser, não teve princípio e não terá fim. E
daqui nasce, meu Jesus, a minha angústia, o meu tormento que lábios humanos
nunca poderão exprimir. O Céu está fechado, mas a sua justiça pesa e esmaga-me.
A minha alma não pode nem ao menos chamar pelo nome do Senhor. Parece que, se
nesta eternidade eu com doçura e amor pudesse pronunciar o nome de Jesus, já não
podia dizer: vivo na eternidade! Ah! Se um momento se passasse, dela nascia a
esperança do seu fim. Mas assim nunca principiou, nunca acabará jamais. Foi
sempre, sempre eternidade. Meu Deus, que pavor! Junto a isto todos os
sofrimentos com a inutilidade. Nem ao menos queria pousar um pé sobre a terra do
Horto e do Calvário, tal é a indiferença e a separação de Jesus. Alguém me levou
a pisar este solo que Jesus regou com o Seu Sangue. Por ele fui arrastada por
cordas e derramei também o meu. No cimo da montanha, tinha que dar a vida e
assim o espírito pareceu deixar o corpo e voar para o outro mundo que não era
este. Veio Jesus sem grande demora, entrou sem eu dar por ela e falou-me assim:
― “Jesus desceu,
desceu do Céu, entrou no seu tabernáculo, no seu paraíso, no seu céu na terra.
Entrei silencioso, mas cheio de bondade. Entrei silencioso, mas cheio de amor.
Entrei silencioso, mas com toda a minha vida para te dar sempre, sempre, minha
filha, toda a minha vida. Sofrer por Jesus, viver a vida de Jesus na terra. Oh,
dita, oh, dita, incomparável dita. São tão grandes e profundos os desígnios do
Senhor sobre uma alma eleita. É tão profunda e misteriosa a tua vida, minha
filha, porque é profunda e misteriosa, porque é toda divina, é mal, muito mal
compreendida. Quanto mais alta a missão tanto mais profunda e misteriosa é a
vida da alma eleita do Senhor. Mais ódio, mais perseguição, menos compreensão. O
meu Divino Coração está atravessado por duras lanças, lanças que os pecadores me
cravam, lanças, lanças que almas, muitas almas que se dizem minhas amigas, que a
Mim foram consagradas e não só não correspondem a esta graça, mas ainda fazem
com os seus maus exemplos que muitas, muitas almas se afastem de Mim. Fala às
almas, minha filha, fala às almas. Dá-me almas, almas, sempre almas. Jesus
vence, Jesus triunfa. A tua missão sublime há-de brilhar, há-de brilhar em todo
o mundo, mais que o sol brilhante, mais que o sol resplandecente com os seus
raios. Coragem, coragem, minha filha. Muitos cegos hão-de ver. Ai daqueles
pobres daqueles que não chegares a ver”.
― Ó meu Jesus, ó
meu Jesus, o que é a minha vida, ai o tormento da minha vida. Quero viver
escondida, muito pequenina, muito pequenina, menos que o vermezinho da terra. As
perseguições, as maledicências, as humilhações, todos os sofrimentos, tudo
suporto por Vosso amor. Vejo-Vos a Vós, meu Jesus, em todas as coisas. A Vossa
missão dá-me a loucura das almas. Porque só a Vós vejo, só almas Vos quero dar.
― “Ó louquinha do
amor divino, ó louquinha da eucaristia, avante, avante, coragem! Triunfa,
triunfa na tua pequenez. Toda a alma humilde e ansiosa de viver escondida é
grande com o seu Senhor, é grande com o seu Senhor, triunfa com o seu Senhor,
eleva-se no seu Senhor. O humilhado por amor de Jesus é exaltado no amor de
Jesus.
Eu quero luz, Eu
quero luz, Eu quero que se faça luz, aquela luz que não é dada por Mim, aquela
luz que devidamente deve ser dada pelos representantes da minha Igreja. Cuidado,
cuidado, que a perseguição satânica não seja por falta do cumprimento do dever”.
― Jesus, não
quero pensar em nada, não quero ter querer. Quero só pensar em Vós, quero só a
Vós amor e sempre, sempre, num abandono completo caminhar por onde Vós
caminhais, ter o Vosso querer e aceitar tudo quanto me dais.
― “Se soubesses a
reparação que posso apresentar ao meu eterno Pai, se visses como todas as lanças
saíram do meu Divino Coração, morrias, morrias de alegria. Vem receber a gota do
meu Divino Sangue, gota abundante, gota que te dá a vida para viveres, gota de
conformidade, de alegria e de paz. Tudo passou para o teu coração com toda a
abundância do meu amor. Vai em paz, vai em paz, minha filha. Recomenda a oração
e a penitência. Recomenda a emenda de vida. Diz ao mundo que Jesus está triste,
muito triste com sua bendita Mãe, que o seu eterno Pai está irado, muito irado
contra ele. Fica na cruz, fica na cruz, esposa minha, porque é cruz de
salvação”.
― Obrigada,
obrigada, meu Jesus. Lembro-Vos as minhas intenções. São tantas e tão grandes,
mas Vós sois, meu Amor, o remédio de todos os males. Confio, confio, meu Jesus,
que me haveis de atender. Tende piedade de mim. Tende piedade de nós. Tende
piedade do mundo inteiro. Obrigada, Jesus, obrigada, Jesus.
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