— “Não temas,
minha filha, o teu Jesus. Quem o possui e ama deveras não o pode temer. Jesus
quisera que todos falassem nas bondades do seu divino Coração com toda a
simplicidade e amor. Jesus quisera que todos falassem nas bondades do seu divino
Coração, da sua ternura, da sua compaixão, do seu perdão. Jesus é louco por
todos os filhos seus. Jesus ama-os apaixonadamente e a todos quer dar os
tesouros inesgotáveis do seu amável Coração. Jesus a todos quer ver à volta do
seu Sacrário a amá-lo e a recebê-lo com aquele amor e carinho como as andorinhas
com os seus filhinhos. Que timoratos são os que temem deveras a Jesus e todos
aqueles que desconfiam das suas bondades e misericórdia! O amor e a confiança é
tudo para a alma que deveras ama e pertence a Jesus!”
Ó Jesus, eu confio
plenamente em vós. Vós ides atender ao smeus pedidos, ides, Senhor? E depois
ides logo levar-me para o Céu, sim, meu Jesus? Que desejos e saudades eu tenho
dele! Não posso viver aqui, meu Jesus! Este exílio é aterrador!
— “Jesus vai
alcançar à louquinha da Eucaristia tudo o que ela lhe pede. Jesus não pode
deixar de velar e olhar pelo filho predilecto a quem tanto ama! Jesus não pode
deixar no momento final a sua esposa em abandono completo. Jesus vai dar-lhe
tudo e vai dar-lhe o Céu”.
Obrigada, Jesus,
para sempre: um eterno obrigada!
— “Minha filha,
minha filha, Jesus anda como a avezinha que não pode poisar, que não pode
descansar. Jesus anda louquinho a pedir amor amor a todos os corações. Que
tristeza amar e não ser amado; amar e ser ofendido! Mas ainda bem que a
louquinha do amor divino ama-o apaixonadamente, ama-o como Jesus o deseja, ama-o
com o amor mais puro e desprendido de tudo o que é terreno; é amor santo, é amor
divino. Foi por este amor que Jesus se enlouqueceu pela sua louquinha; é pelo
amor da louquinha da Eucaristia que Jesus se apaixona pelas almas que a amam. É
por este amor tão puro que Jesus lhe vai dar uma morte de amor, amor, só amor.
Jesus está louco de alegria, Jesus está contentíssimo com o Paizinho da sua
benjamina querida. São as humilhações por que está a passar que o hão-de
glorificar e exaltar. O prémio é grande no Céu e grande será na terra ainda a
recompensa. Jesus está louco, louco de alegria com o Sr. Doutor, com o santo
cuidado com que ele está a desempenhar tão grande missão. Jesus escolheu-o para
velar pela sua crucificada e as almas a quem mais amo. O Coração divino de Jesus
está superabundante de graças para derramar sobre todas elas. O mundo, Satanás
odeia-as e odiá-las-á. A sua causa é só a soberba e o orgulho: só isso é a razão
da sua raiva. Porém Jesus ama-as com sua bendita Mãe, triunfa e vence com elas,
e só isso basta”.
Ó meu Jesus,
defendei-as sempre, amai-as sempre apaixonadamente, triunfai e vencei com elas.
Levai-me então depressa para o Céu para eu fazer descer sobre elas as vossa
graças e as vossas bênçãos. Sim, sim, meu Jesus; confio que sim, meu Amor.
— “Está o Céu
mais próximo da louquinha de Jesus do que está a terra”.
Levai-me, levai-me
então para lá; só por ele suspiro!
Estando a Deolinda
deitada a meu lado e junto à minha cama, dormindo ela, vi a horrenda figura de
Satanás perto de mim entre a cama e o local onde repousava a Deolinda. Satanás
estava montado num cão escuro, malhado de preto, e Satanás tinha as mãos de
macaco, com seus dedos separados, vestido de vermelho; era um vulto informe,
cabeça baixa, olhos levantados para me fitar. Não o vi entrar nem o vi retirar;
todavia assustou-me e tentei chamar a Deolinda que, doente dos dentes, dormia
por efeito de uma pastilha de Vermon e por isso mesmo não ouviu a minha voz.
Creio que a chamei duas vezes; depois desisti de a chamar com pena de lhe
perturbar o repouso. Entretanto Satanás desapareceu.
Em alguns dias
precedentes eu ouvia umas harmonias muito suaves, como toques de acordes de
instrumentos celestes, executando música angélica; e apreciando a doçura dessa
música divina, eu esquecia-me do mundo e da vida terrena, perdia a noção de mim
própria e parece que passava a viver numa região estranha onde tudo é ventura e
inefável.
Foi então que no
dia 9 de Junho de 1942, pelas 13 horas, me apareceu sobre a cama descendo do Céu
a figura deslumbrante de Mãezinha que parece se fixou em minha frente um pouco
para a minha esquerda. Vestia ricos vestidos brilhantes, de cores variadas,
trazia os pés nus, chegou-se a mim para me acariciar e com sua mão direita
apontou para o Céu. Parecia comovida com o meu sofrimento a prometer-me a
recompensa e a inspirar-me confiança. O trono em que veio era brilhantíssimo
como ouro pálido em que o sol projectava os seus mais brilhantes raios. Foi
inefável a consolação que me deixou a primeira aparição. Por uns minutos me tem
desaparecido para novamente me aparecer, agora mais junto de mim, do lado
direito, e pude ver distintamente que agora era o Imaculado Coração de Maria.
Também me acariciou como da primeira vez, porém não fez o gesto de apontar o
Céu. A sua presença consolou-me profundamente e essa consolação celeste
permaneceu na minha alma, que por alguns dias gozou aquele conforto maravilhoso.
Este conforto era como que um íman que me elevava para Jesus, sentindo-me então
na bem-aventurança.
De tarde, talvez
pelas 18 horas solares, eu vi novamente aquele feixe de raios celestes que me
haviam visitado e que tanto me aproximavam do Céu. Agora nova elevação, novo
conforto e parece que agora me puseram mesmo juntinho à porta do Paraíso,
faltando-me apenas bater e entrar! Deixaram-me umas ânsias devoradoras do Céu,
que por vezes me custam a suportar. Parecia-me que tinha duas asinhas para voar
e força de voar, mas qualquer coisa me estorvava o movimento das asas; uma
pressão sem prisão mo tirava, que eu não vencia, e por isso me angustiava.
Todavia a impressão de que essa prisão das minhas asas era qualquer coisa de
maldade dos homens contra a vontade do meu amado que suspirava por me receber e
por me possuir no seu amor.
O meu viver: que
pequenino sopro de vida! Só corpo para sofrer e nada, nada mais! Que saudades do
Céu! Que ânsias tão consumidoras! Os raios divinos arrastaram-me mesmo, mesmo
para as portinhas do Céu, mas um não sei quê humano obriga-me a viver na terra,
obriga-me à imolação contínua. Não me dão o meu Paizinho. Pobre de mim, e eu não
posso esperar mais! Miro e remiro o meu corpo a ver se ainda existe. O que nele
se passa só Jesus o conhece. Parece-me que nem posso ter união com Jesus nem ao
amor que me há-de matar. O que é a vida da vítima! Contudo não me arrependi pela
minha oferta a Jesus e pelas almas. Ele derrama sobre mim de vez em quando os
raios do seu amor. Foi no dito dia 27, que era sábado, e eu sem poder rezar
redobrava o meu esforço por lhe estar unida na Eucaristia longe de pensar
receber dele tão depressa a recompensa. Jesus, eu toda para vós e vós todo para
mim. Eu quero estar sempre unida a vós em todas as prisões de amor. Que
maravilha! De repente, à minha frente vi um sacrário. A portinha estava fechado,
mas por todas as frestazinhas da porta do sacrário saíam numerosos raios
dourados; davam toda a luz e todos eles vinham bater e repousar no meu pobre
peito. Não foi uma ilusão minha, pois nunca pensei Jesus pagar com tanta
generosidade o meu grande esforço.
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