Ao ser interrogado frequentemente acerca da
Alexandrina, eu costumo afirmar:
«Na minha já não breve vida sacerdotal
abeirei-me de muita gente, de todas as categorias, mas nunca encontrei
nenhuma (inclusive sacerdotes e religiosos) tão humana e espiritualmente
perfeita, sob todos os aspectos, como a Alexandrina. Nunca!»
Recordando os frequentes contactos que tive
com aquela alma de escol, iluminando-os com os conhecimentos ascéticos que as
leituras espirituais da minha vida sacerdotal me fornecem diariamente, não
consigo descobrir nela a mais pequena sombra de imperfeição. Antes pelo
contrário, descubro cada vez melhor a beleza, o requinte e o heroísmo da virtude
da Alexandrina. Sinto-me cada vez mais levado a admirar a maravilhosa acção da
graça de Deus naquela alma.
Se eu tivesse de apontar a virtude em que ela
mais se distinguiu, não saberia fazê-lo, porque não houve uma que brilhasse nela
mais do que as outras: foi excelente em todas, numa harmonia perfeita.
Mesmo naquelas que exteriormente foram mais provadas: por ex. na obediência
à Autoridade eclesiástica e aos seus directores; na paciência posta tão
rudemente à prova quer pela doença, quer pelas pessoas que a visitavam de
maneira importuna; na caridade para com o próximo, sobretudo com os que
lhe causavam gravíssimos desgostos.
A sua personalidade verdadeiramente gigante
era escorada por um espírito de humildade muito convicta e evidente que
aflorava dos seus lábios e mais ainda das suas atitudes interiores, como
facilmente se pode deduzir da leitura atenta dos seu diários: por um total
desapego da sua vontade, sempre ansiosa em buscar e cumprir a vontade de
Deus à custa da renúncia total dos seus desejos e gostos pessoais.
Era verdadeiramente uma criatura
consagrada de uma forma total ao seu Deus, em espírito de imolação, para
reparar as ofensas que lhe são continuamente dirigidas, e para salvar-lhe almas,
todas as almas. Uma tal consagração não se explica sem um grau eminente de amor
de Deus: amor insaciável, ardoroso, avassalador. Não saberia melhor definir esse
amor do que aplicando-lhe o adjectivo «seráfico», no sentido mais completo da
palavra.
Não encontro paralelo desse amor a não ser na
vida dos grandes amantes de Deus, reconhecidos pela Autoridade da Igreja.
Mais ainda que os factos, que podiam causar
impressão, foram estas virtudes sólidas e excepcionais que me ligaram à
Alexandrina : foi delas que me ocupei e preocupei tomando, no devido tempo, a
sua defesa à custa de muitas amarguras.
Foi igualmente o mesmo motivo que me levou a
exigir que ditasse os seus sentimentos de alma, sem os quais teriam ficado
ignoradas as suas riquezas espirituais nos seus aspectos mais íntimos e,
portanto, mais preciosos.
Turim (Itália), 2 de Julho de 1965.
In fide (em fé).
P. Humberto M. Pasquale, S. D. B
(Documento dactilografado do
arquivo de Balasar)
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